O Blog

No começo eu só queria contar detalhes da minha vida em Toulouse para minha família e amigos curiosos. De repente comecei a ter necessidade de escrever, foi nascendo um diário de crônicas, foram surgindo seguidores, leitores, a vida foi tomando outro curso. Após 1 ano e quatro meses na França, idas e vindas para o Brasil estou diante de mais um ponto de bifurcação, voltando às minhas origens para dar continuação ao blog e a vida. Você está convidado a participar desses próximos capítulos e a se perder e se encontrar nessas novas estradas estrábicas.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

La cuisson de la viande

Que saudades de escrever, depois de um mês repleto de diversos acontecimentos, aí vamos para um novo post. Poderia começar falando sobre as duas semanas na Turquia nos Jogos Mundiais de Cegos, escrever todas as palavras turcas que aprendi (isso ocuparia poucas linhas), poderia dizer que Alex de Souza é o maior ídolo do futebol turco (injustiçado no Brasil segundo Morato, 2011), poderia relatar todo o trabalho entusiasmante com a delegação brasileira ou ainda contar detalhes sobre meu acometimento gastro-intestinal e as horas no hospital turco. Ainda poderia contar sobre os dias ensolarados da primavera em Toulouse, os jardins e gramados floridos de gente deitada sobre eles, tentando levar o branco da pele para outro tom da escala monocromática...Poderia contar sobre o primeiro dia na academia e a aula de sh-bam (uma dança inexplicável, algo semelhante à dança do acasalamento dos pandas da China) ministrada pelas cópias de Tina Tuner e Jane Fonda...Mas hoje decidi escrever sobre a cuisson da carne francesa, ou seja, o ponto, o cozimento que eles darão ao seu pedido. Você tem três escolhas: saignante (sangrando), à point (ao ponto) e bien cuite (bem passada). Eu adoro carne e daquelas bem suculentas, mas essas escolhas acima podem se resumir a: carne totalmente crua, carne menos crua ou quase crua...Eu venho saboreando esses pedidos, mas pra quem tem restrições à esse tipo de cuisson, que venha para os restaurantes franceses preparado. Você pode pedir em inglês e ao contrário do que muitos pensam em Toulouse eles vão tentar te ajudar, os mais jovens principalmente ou se arriscar no francês... Eu beirando os quatro meses na França tento rasgar meu francês por aí, mas resulta que quem sai rasgada sou eu, cuisson saignante eu diria. Isso porque se você não fizer o sotaque perfeito deles, eles vão te olhar como se tivessem acabado de chupar um limão, fazendo cara de "não entendi o que você disse". Legal, no Brasil se aparece um gringo tentando falar português a gente adora, fica rindo, ensinando palavras e palavrões, achando o máximo, sem contar que entendemos qualquer sotaque desde do cearense, paraíba, baiano, mineiro, carioca, paulista, gaúcho...Aqui meus caros, errou o sotaque pode ir pra terapia porque a tendência é você ter cada vez mais medo de errar...Eu já estou chegando na cuisson à point, a ponto de reagir sem a devida educação, tem gente que conheço que já está bien cuite, bem passados desse mau humor, de saco cheio de tentar acertar...Espero poder não errar os próximos pedidos, se não vou acabar me tornando uma vegetariana da língua francesa.