O Blog

No começo eu só queria contar detalhes da minha vida em Toulouse para minha família e amigos curiosos. De repente comecei a ter necessidade de escrever, foi nascendo um diário de crônicas, foram surgindo seguidores, leitores, a vida foi tomando outro curso. Após 1 ano e quatro meses na França, idas e vindas para o Brasil estou diante de mais um ponto de bifurcação, voltando às minhas origens para dar continuação ao blog e a vida. Você está convidado a participar desses próximos capítulos e a se perder e se encontrar nessas novas estradas estrábicas.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Não sou cadeirante, mas e se eu fosse?


Não sou cadeirante, mas e se eu fosse?

Se eu fosse, por algum acidente, missão divina ou destino, definitivamente minha vida seria diferente. Assim como se eu fosse indígena, asiática, ou árabe, minha vida provavelmente também seria diferente. De todas as formas, estar permanentemente numa cadeira de rodas nos desperta medo, desconfiança, desespero, impotência entre uma série de outras emoções inatas ao ser humano.

Foi assim que iniciei meu dia semana passada, participando do programa “Não sou cadeirante, mas e se eu fosse?” liderado pelo time de Acessibilidade, Sustentabilidade e Legado do Comitê Rio2016. Inicialmente a experiência me chamou atenção por engajar muitos colegas que nunca conviveram com pessoas com deficiência, muito menos vivenciaram quaisquer experiências em cadeiras de rodas. Eu que vim da Educação Física, e de um programa de mestrado e doutorado em Atividade Física Adaptada, já tinha feito rapel vendada, andado de bicicleta sem enxergar, jogado Basquete e Rugby em cadeira de rodas...Enfim, na minha cabeça ingênua, já tinha tido várias oportunidades de transformar minhas percepções em relação às pessoas com deficiência.

Me lembro de um curso que fiz em 2004 com o professor Horst Strohkendl, um dos precursores do Basquete em cadeira de rodas, onde aprendi mil manobras, saí com as mãos esfoladas, ganhei um livro dele pelo empenho e dedicação e ouvi a seguinte exclamação: Menina, agora é só escolher a altura da lesão! Saí de lá feliz da vida e cheguei em casa empolgada contando para meu saudoso paizinho que já podia ficar paraplégica! Nem preciso contar a cara de desconforto com a qual ele me olhou. Ainda me mandou não ficar sentando nessas coisas que isso atrai tragédia...Logo ele que dirigia como Louis Hamilton, tinha uma moto Hayabusa, lutava Jiu-Jitsu e comia como se não houvesse amanhã. O que atrai o quê pai?

Bom, todos esses fatos e histórias sempre me fizeram olhar para as pessoas com deficiência como pessoas. Ora simpáticas, ora grosseiras, ora divertidas, ora mal-humoradas. Digo isso não só pela minha irmã, que me fez conviver com a deficiência desde seu nascimento, mas por todas outras pessoas que conheci. Não é a deficiência que as torna mais gentis, merecedoras de pena ou de um sorriso.
O programa “Não sou cadeirante” tinha duas versões: a light e a extreme. Eu que quase não gosto de uma atividade hard core faca na caveira (depois faço outro post sobre a bravus race), me inscrevi no extreme (você passa metade do dia e sai para almoçar com a cadeira). Convenci mais três amigas entusiastas da causa e do movimento paralímpico (Vanessa, Carla e Luca) a irmos almoçar no centro do Rio. No verão de 47 graus, 55 na hora do almoço, pegar o metrô e ir andando pelas famosas calçadas cariocas de pedra portuguesa, numa cadeira de rodas não parecia nem atraente, nem agradável. Mas eu queria muito passar por isso. E lá fomos nós.

Problemas para atravessar a rua do comitê que estava sendo recapeada, fui quicando e sendo empurrada até o outro lado. Também tivemos que correr para não dizer adeus à mim e à cadeira da Ottobock pois o tempo era muito curto para fazer a travessia com cautela. Na estação Estácio não paguei o bilhete (achei boa essa parte) e fui recebida por um moço fardado (devia ser só um uniforme, mas me lembrou um capitão do Bope). Ele me ensinou a usar os dois elevadores de cadeiras para chegar até os vagões. Enquanto eu descia apitando igual a porta do banco quando entramos com moedas na agência, todos que aguardavam o trem estavam me olhando. Eu com cara de quem ia descer uma montanha russa e as meninas me filmando como se fizessem um documentário para Discovery ou Animal Planet. 20 minutos depois entramos no metrô.

No vagão subi sozinha e estacionei na vaga de cadeirante, depois que a Carla pediu que desocupassem aquele lugar. Descemos 3 estações depois e como num passe de mágica, lá estava outro moço, simpático, fardado me esperando (também gostei dessa parte). Enquanto me empurrava, com um ar de bugueiro do Ceará me perguntou: Você quer subir com ou sem emoção? Eu pensando...ele me oferece emoção sem nem saber meu nome? Adivinhem minha resposta, com emoção claro...e lá subimos a escada rolante, ele empinando minha cadeira e ainda quase fungando no meu cangote. Será que se eu fosse homem também seria assim? Mas confiei nele, era minha saída. Só não contei que esse era um programa do comitê organizador dos Jogos Rio2016. Fiquei com medo dele achar que estávamos de brincadeira e me soltar escada abaixo.  

 Nessa hora, perguntando como eles fariam se um time de cadeirantes chegasse junto no metrô, ele ao invés de me responder me contestou dizendo: O que você joga? Eu disse...hum, na verdade não jogo, sou tipo técnica... (de onde eu tirei o “tipo"?)  Ele complementa: Do que? De Rúgby em cadeira de rodas! Moço vamos mudar o assunto, já estou quase na saída da estação..., até lá fomos nessa, ele me empurra eu converso as meninas riem e filmam.

Tirando a minha cara de pau e o receio de não ser levada a sério, a experiência foi positiva, apesar do trajeto ser mais demorado, eles estavam preparados para me receber e ainda são treinados para dar mais “emoção”, que significa agilidade e menos tempo para subir as escadas.

Nas ruas eu só pensava na preguiça que devia dar todos os dias em sair de casa sem saber o que se vai enfrentar. Estava numa calçada e queria desviar de um pingo encardido de ar condicionado e não teve como, foi um no olho e outro na minha calça, ai que raiva! E assim deve ser o tempo todo com o cadeirante...desviar de poças, segurar um guarda-chuva e empurrar a cadeira, não contar com o recapeamento do asfalto bem no dia que você está com pressa. Pressa, inclusive, é uma palavra que não pode muito existir no vocabulário dos cadeirantes...É necessária muita organização e planejamento para sair de casa, principalmente se for sozinho.

Decidimos voltar de taxi e depois que me transferi (tentando não demonstrar os movimentos nas pernas) de dentro do carro escuto: Ih...essa cadeira não cabe não...Senhor, só de pensar em sair de novo do taxi, montar a cadeira e procurar outro naquele calor...Só conseguia imaginar que mal humor deve dar em quem realmente não tem como levantar da cadeira e resolver os problemas andando!

Resumo do desafio: sozinha eu não conseguiria chegar até o restaurante!

 
 

Nada do que eu já tinha vivenciado na Adaptada se pareceu com essa experiência. Por isso terminei o dia querendo ficar mais na cadeira para ver outras coisas e pensando: Pena que mesmo com uma super cadeira eu não seria capaz de fazer o que queria sozinha...
Não sou cadeirante... mas e se eu fosse?
Talvez, o que eu fosse, dependeria do como eu reagiria diante das desvantagens sociais que uma deficiência acarreta, de como eu responderia às adversidades diárias, à uma nuvem negra arquitetônica que me acompanharia quando na cadeira de rodas numa cidade inacessível. Dependeria do como eu interpretaria os olhares vindos de cima, de como acordaria todos os dias pensando que hoje vou ter um dia feliz. Dependeria do como o meio e as pessoas estariam prontos para me receber como uma cidadã, que tem meios para exercer seus direitos de ir e vir, de acordar de bom ou mal humor, independentemente de estar sentada numa cadeira, com muletas, próteses ou correndo com minhas próprias pernas.

terça-feira, 30 de setembro de 2014

Reencontros e unhas feitas


Consegui. Consegui sentar, em silêncio para escrever alguma coisa. Não sei o que exatamente. Pensei em falar que decidi parar de fazer a unha no salão, porque não gosto muito do serviço daqui, pago caro, gasto muito tempo lá, o neném tem que ir comigo ficar sentindo cheiro de esmalte e produtos de alisar cabelo e ainda por cima logo em seguida, antes mesmo de pagar, já borrei a meleca da unha. Em casa pelo menos saio enfiando creme nas cutículas enquanto Zé Bolota brinca de chacoalhar os ursinhos, em seguida vou empurrando, ele das minhas pernas e as pelinhas da unha e quando ele acha o controle da TV, coloca inteiro na boca tirando da GNT e trocando para Tv Senado, aí sim, eu consigo pintar as benditas. Limpar, no caso, eu acabo deixando para outro momento. O do soninho dele, ou do meu banho, que finjo ser mais longo só para não ficar com as unhas igual ao batom da vovó Mafalda. Pronto, mamãe feliz, neném feliz, papai feliz, unhas xexelentas e dinheiro no bolso.

No bolso não, na farmácia. Nem é porque ele está doente não, é porque depois que nasce o neném você descobre que a farmácia é um parque de diversões, só que frequentado quase diariamente. Daí você se entrega à personagem de mamãe pedinte, chorando por desconto do plano de saúde, desconto do cartão fidelidade, desconto para estudante, desconto para uma mãe esforçada, enfim, a caixa da farmácia acaba te oferecendo o programa “minha farmácia, minha vida” e pronto, a economia de 3 reais já deixa mamãe feliz. Papai e neném nessa hora estão brincando de aviãozinho obviamente nem aí para a conquista social e política que se passara debaixo de seus narizes.

Eu descobri que a minha vida pessoal acontece mesmo das 9h00 às 18h00, de segunda à sexta, enquanto estou trabalhando. Tudo que eu cogite fazer, que só envolva o meu bem estar, o meu momento bem egoísta, deve acontecer nesse horário. A “malhação” portanto é na hora do almoço, a unha, poderia ser na hora do almoço, mas já falamos sobre esse assunto. Um almoço sem interrupções com um relacionamento respeitoso e carinhoso entre mim e o prato escolhido: só na hora do meu almoço! Parece irônico, mas no horário de trabalho isso pode acontecer. Aí você descobre que voltar ao trabalho não necessariamente será aquela treva que nos persegue quando a licença maternidade está para acabar.

 Dá uma saudade da p. do Bolotas, mas quando a gente chega em casa, somos só dele, fazemos de tudo por uma gargalhada, pelas palminhas, pelo tchauzinho, pelas sílabas novas. Aplaudimos todas as conquistas (lamentamos as que não fomos os primeiros a ver), mas claro celebramos o sentar sozinho, o levantar sem esforço, o esboço de beijo na boca molhado que ele dá. E também nos damos conta da trabalheira que vem pela frente, com o engatinhar, o caminhar...Assunto para um novo post daqui alguns meses (não porque ele vai demorar para engatinhar, já começou, inclusive, claramente é pelo tempo que provavelmente vou demorar a arrumar).

Eu disse que a gente é só dele quando chega em casa, mas tem um detalhe: só até a hora que ele dorme. Estamos tentando arduamente fazê-lo dormir no mesmo horário, direto no bercinho e a noite inteira, sem mamar na madrugada. Apesar de todas as leituras e frustações tentando fazer essas coisas desde o nascimento do Francisco, agora chegamos a um nível (gostaria de dizer que foi um nível de maturidade), mas, um nível de stress e cansaço que está nos provando que por mais cansativo que seja ser duro e se manter firme aos berros do bebê, mais cedo ou mais tarde ele vai aprender quem sabe o que é melhor para ele, quem manda no pedaço. Quando isso começa acontecer, começa por conseguinte a sobrar um tempinho para o vinhozinho abandonado, o carinho no pé, o filme sem pausa, uma vida a dois, ainda que apenas por duas horas.

No início do texto disse não saber exatamente sobre o que escrever, agora, linhas depois, aparentemente escrevi sobre o bebê, mas no fundo sei que escrevi sobre como é tentar retomar minha vida pessoal, tentar me reencontrar, buscar uma Mariana escondida na maternidade, porque às vezes parece mesmo que quem a gente era antes não volta mais, parece que aquele brilho no olho, no cabelo, na pele nunca mais nos pertencerá.

Bem, vamos aos poucos. Se o brilho no olho volta, ainda que cheio de lágrimas e olheiras de cansaço, esse já é nosso primeiro passo. O cabelo e a pele, o verão e o cabeleireiro podem resolver. Aí pronto, mamãe feliz. Já papai e neném, provavelmente estarão brincando de cavalinho assistindo nossas transformações e reencontros.

 

 

terça-feira, 15 de julho de 2014

Mãe de cinco meses

Quantas coisas me impulsionam a escrever no blog neste momento...Ter assistido a final da copa do mundo no Brasil da qual a seleção brasileira não fez parte, ter voltado ao trabalho recentemente, deixar meu bebê na escolinha todos os dias desde então, ter terminado o doutorado, falar dos cinco meses de licença em casa e de como foi ver meu brotinho crescer e crescer a cada dia…

Como boa mãe obviamente não começarei nem da derrota argentina, nem do doutorado, nem do trabalho! Falarei do bebê.  Muito difícil descrever 5 meses em algumas linhas, muito difícil registrar tantos momentos. Cinco meses podem parecer muito pouco, e realmente, passam muito rápido, mas na vida de um serzinho que acabou de nascer, 5 meses é uma vida inteira, a vida do meu Francisco, a minha vida de mãe.

Se você me perguntasse no primeiro mês se eu gostaria de ter outro filho, imediatamente minha resposta seria JAMAIS...afinal, que mulher (das normais) quer passar o dia de camisola, com uma cinta pós-parto que cobre quase sua cara, mais um sutiã com dois buracos abertos com os peitos pra fora, vazando leite, com golfo de neném (aquele vômito tipo coalhada) no cabelo, gorda, inchada, com um bebê minúsculo no colo, tentando dar uma de mister M e desvendar tudo o que aquele chorinho ora fraco, ora ensurdecedor quer dizer. Me digam, em sã consciência, que mulher diria “SIM” para este convite?

Curioso. Mas no segundo mês eu já estava dizendo “SIM quero outros, mas não agora” of course! São tantas transformações na gente, neles, nos maridos, no relacionamento, nas amizades, na conversa com a moça da padaria, no bom dia pro porteiro, na empatia com a sogra e na compaixão com sua mãe...até o bandido mais sujo e peçonhento já foi um recém-nascido indefeso, gerado por uma mãe inexperiente e insegura como todas aquelas de primeira viagem.
Sendo assim, todos os bebês merecem muito respeito e claro, cuidados para sobrevirem a este mundo aparentemente injusto e cruel pra eles, já que tem de sair da comodidade da barriga da mamãe enfrentando a luz do sol, o ar poluído e as roupinhas fofas que irão vestir…


Comigo foi assim, sempre tentei pensar que apesar das pessoas ironizarem dizendo que a vida dos bebês é fácil, na verdade não é, eles tem de ensinar aqueles pais iniciantes, sem poder verbalizar, demonstrar com o corpo ou desenhar o que precisam. É chorando mesmo que os bebês ensinam a gente a ser pais e como já disse uma vez, quem nunca foi bebê que atire a primeira pedra!
No dia das mães eu me senti muito poderosa e gostei mais até que dia do aniversário, pela primeira vez eu vi que tinha um papel no mundo, um sentido especial pra minha existência, eu podia dizer “sou mãe e mereço sim seu parabéns”.


Parabéns por cuidar da minha alimentação pra evitar que você, filho, tenha cólicas (mesmo ouvindo que não tem nada a ver), parabéns por prestar atenção nos conselhos de não beber leite, comer chocolate, glúten, feijão, não comer nada, morrer de fome, só pra ver você dormir bem...Mereço parabéns por ser educada com as pessoas mesmo quando elas dizem que seu soluço é por frio, calor, diafragma imaturo ou qualquer outra teoria.
 Parabéns por caçar suas melecas, te ver chorar e persistir até tirar as benditas, parabéns por pensar no seu look, cortar as etiquetas da sua roupa (pra não pinicar) e cortar as suas unhas suando frio. Parabéns por me manter acordada enquanto te amamento ou por fazer acrobacias para você mamar sempre que tiver fome, esteja eu sentada confortavelmente, em pé, fazendo xixi ou andando no shopping. Parabéns pra mim que consegui entender que mamãe e peitos são sinônimos e por isso interiorizei que todos conhecerão aquele pedaço de mim, dos quais o patrão é você. Parabéns pra mamãe que deixou de ter tanquinho pra ter pneuzinho, deu um tempo no jiu jitsu para ir à hidroginástica e deixou de ler livros para ela e ter esse tempo todo com você.
Mereço parabéns por descobrir as mil utilidades do lenço umedecido, pomada anti-assadura, cueiros e travesseiro anti-refluxo, parabéns pra mamãe que riu todas as vezes que o papai levou rajada de coco, por ficar horas “cagada” só pra te dar um bom banho, te colocar uma roupinha limpinha até você dormir e eu poder tomar meu banho. Parabéns por comer a jato pra te dar atenção, por me transformar na peppa pig, galinha pintadinha ou Cláudia Leite pra você se divertir…

Apesar desses parágrafos parecerem assustadores eu não encontro palavras para expressar toda minha gratidão a esse bebezinho, por a cada dia me ensinar a ser mãe. Por cada carinho no meu rosto, por cada sorrisinho e gargalhada sem dentes, por cada silencio ao sentir minha presença, por cada conquista. 
Ao escrever me dou conta que o parabéns é seu filho, porque é esse tempo intenso, trabalhoso e impagável que tem me deixado assim...mais humana, mais carinhosa, mais humilde. Mais distraída, mais atenta, mais responsável. Mais boba, mais criativa, mais versátil, mais inteligente.  Mais esquecida, mais magra e persistente. Mais forte, poderosa e imbatível.  Mais frágil, mais dengosa e sensível…


Talvez nada disso faça sentido ao Francisco ou a quem nunca passou ou pensou em passar por isso, mas hoje ser mãe é mais prazeroso que assistir a final da copa, terminar um doutorado ou trabalhar no que se gosta. Meus valores se atualizaram com a chegada do meu filho e por mais que eu sinta falta de um jantar romântico, um cinema a dois ou uma longa noite de sono eu quero sim passar por tudo isso de novo e tudo mais que está por vir nos próximos 5 meses, 5 anos ou quem sabe, 5 filhos. (hahaha piadinha pra terminar!)

terça-feira, 3 de junho de 2014

Doutorado dedicado e agradecido

Devendo um post sobre os 4 meses de maternidade…está aqui bem latente…mas ainda não será dessa vez, quem sabe no quinto mês ou quando o Zé Bolota der uma trégua e conseguir se entreter uns 40 minutos sozinhos…
Por enquanto me detenho a publicar apenas a dedicatória e os agradecimentos da minha tese, defendida finalmente na última sexta-feira. Obrigada a todos que torceram pra que esse dia chegasse e que eu saísse de lá satisfeita e aliviada!


AGRADECIMENTOS
Agradeço ao ciclo da vida,
Por ter início, meio e fim,
Altos e baixos,
Por oferecer o fel da derrota e o mel da vitória,
Pela oportunidade de aprender com eles,
Por proporcionar pessoas que nos acompanham na trajetória,
Pelo valor de cada entardecer,
Pela certeza do amanhecer,
Pelas estações do ano e as lembranças que elas trazem,
Pelo amadurecimento diário,
Pela despedida no fim,
Pela felicidade nas chegadas,
Pela esperança do recomeço,
Pela alegria de viver a cada ciclo, uma nova vida.
Agradeço em especial, à este ciclo,
Pelas dores e amores,
Ao pôr do sol que via da Unicamp,
Às experiências gastronômicas e literárias de Toulouse,
Aos novos livros, nova língua e novos vinhos,
A quem participou dele,
Às presenças, palavras, emoções e força,
À todas as voltas que este ciclo deu,
À minha chegada até aqui,
Ao filho que carrego agora,
À família que estou construindo,
E ao novo ciclo que vai se iniciar a partir do encerramento deste,

Obrigada.

Dedicatória

Dedico este trabalho ao trigo, às leis e ao mar,
Pois sempre me farão lembrar da leveza e pureza de minha avó,
Da disciplina altruísta do meu avô,
Do conforto, infinidade e imensidão de amor do meu pai.
Eles acompanharam o início deste ciclo e de alguma forma estão vendo seu
final,
Me alegro eternamente por tê-los conhecido.




Em breve eu volto pra falar desse e outros tantos novos momentos que tem adubado minha vida…


quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Amor à vida: A novela da gravidez do primeiro ao nono mês

Claro que ia escrever um post sobre a novela da gravidez. Engraçado que dura mais ou menos o mesmo tempo das novelas brasileiras e de praxe traz um enredo: você descobre, a sementinha cresce, o bebezinho se desenvolve e seu filho nasce. A chamada convidativa para os espectadores é: Você vai se emocionar com cada capítulo desta novela e se surpreender com o final.
Pronto. Não quero me comparar a nenhum autor de novela, até porque entraríamos numa discussão de gostos e interesses. Entretanto, prestes a completar 39 semanas de gravidez (9 meses e alguns dias), queria dividir alguns capítulos desta novela tão especial para mim.

Dois indivíduos salivando para serem pais se uniram e antes de pensarem em comprar uma casa, casar, namorar anos…eles decidiram ter um filho. Eles achavam que demoraria um pouco até seus espermatozoides e óvulos se entenderem para culminar num embrião e resulta que no segundo mês de tantativa, alvo acertado, nasce uma grávida. 
O pior é que o aspirante a pai havia deixado claro que não participaria de testes de urina, pauzinho, sangue ou qualquer outra maneira de se descobrir uma gravidez. Ele queria surpresa. Vejamos...Muito egoísmo de uma pessoa que engravida a outra e não se dispõe a dividir a neurose de uma mulher à espera das listrinhas no palito embebido de xixi e a frustação ou alívio do que quer que aparecesse lá. 

Ok. depois de quase desmaiar ao completar uma volta na Lagoa, desconfiei que talvez pudesse comprar o tal teste na farmácia (escondido, claro). Em meio a embalagem, pauzinho, urina, copinho e mal de Parkinson, constatei apenas uma linha e concluí, é…não foi dessa vez. Minutos depois, ainda cabisbaixa, retorno ao pauzinho como se por mágica outra linha pudesse aparecer e eis que havia uma marquinha, tão clara, tão clara, que achei que era o meu próprio estrabismo que a havia colocado lá. Perguntei a uma amiga que estava na minha casa (porque afinal o papaizinho não podia desconfiar!) e pronto, duas antas e a conclusão, não Mari, você não está grávida.

Virei a página e continuei meus afazeres daquele fim de semana: trilha na Pedra Bonita, skate na lagoa, até que chegaria o dia do treino de jiu-jitsu e minha terapeuta, sabendo da desconfiança, praticamente me obrigou a fazer um novo teste no dia da arte suave, uns 4 dias depois do primeiro. Nem vou narrrar onde estava e como foi, mas as duas linhas apareceram na mesma hora, no mesmo segundo, igualmente fortes. Resumindo: positivo! Podia esperar o dia seguinte pra fazer o exame de sangue e só então contar para o namorado-pai do embriãozinho. Obvio que não deu, mas passei o dia pensando na tal surpresa que ele me pedira.  Em casa o mini kimono com o bilhetinho pedindo ao papai para levá-lo ao jiu jitsu dali 9 meses junto da mamãe,  fez o projeto de autista sair correndo pela casa, entrar de roupa no chuveiro, pegar a vuvuzela e anunciar pela janela, chorar e chorar…Assim descobrimos que seríamos pais. E os capítulos da novelinha dos 9 meses tiveram sua estréia.
Junto com a descoberta veio uma fome infinita e alguns desejos singelos do tipo sopa de aipim com cenoura e cachorro quente com muito purê (inexistente no Rio). Em seguida vieram os enjôos diários, matinais, vespertinos e noturnos que me assombraram até a metade do terceiro mês. 
O pedido de casamento aconteceu nesse ínterim e com ele os preparativos, além disso a vontade de terminar o doutorado antes do nascimento veio à tona e com ela todo o desespero de escrever a tese.
Resumindo: casei praticamente organizando tudo no braço, viajei de lua de mel pra fazer o enxoval, terminei o texto do doutorado nas noites e fins de semana que sobravam, além de claro continuar trabalhando. Resultado: no sétimo mês contrações prematuras e um bebê querendo vir ao mundo antes da hora…
Eu que estava feliz e contente nas minhas aulinhas de hidro, ouvindo as gravidinhas reclamarem de sono, estrias, cãibras, aumento de peso, prisão de ventre, hemorróidas…só me perguntava, cadê o glamour da gravidez da Juliana Paes, da Angélica? Oi? Não existe, óbvio, e a grávida que diz que sua gravidez não teve nenhum desses desconfortos ou intercorrências, ou tem amnésia ou está mentindo mesmo! 
A cada dia uma descoberta, uma irritação, uma euforia e uma sensação de nostalgia. Uma mãe vai se construindo e um pai começa a exercer sua paciência desde já, caso contrário pode ser fatiado como o japonês colocado em pedaços dentro da mala. Sim, grávidas são um pouco psicopatas quando não compreendidas (ou com fome).

O mais interessante nessa fase são os comentários das pessoas sobre suas mudanças físicas:"Nossa, vc já está inchadinha, né?" "Caramba, seu bumbum cresceu bastante!" "Ih o nariz já está batatinha!" ou a clássica "Quantos kilos você já engordou até agora?"(R: muitos, a menos que você seja a minha médica, isso não importa).
Vamos lá: Nós temos espelho em casa, certo? Portanto, dispensamos o reforço do que vemos todos os dias. Segunda coisa: as grávidas são realmente lindas e quando você não está neste estado de graça, o melhor é ressaltar as características boas, já que elas não reconhecem facilmente essa beleza em si próprias, somente nas outras. Por fim, previsões negativas sobre o que está por vir também são desnecessárias…Já sabemos que iremos dormir pouco, que o bebê vai dar trabalho, que nossa rotina vai mudar…Então você que já sabe disso, que tal falar do amor incondicional que sente pelo seu filho, das alegrias diárias que ele te dá, do quanto é bom segurá-lo no colo e acalmá-lo quando ele está chorando? Humm…ouvi isso poucas vezes…
Claramente se estamos falando de amigas próximas é normal um papo de terror, amor e sinceridade, mas supoe-se que estamos perguntando e queremos saber da realidade, não me refiro aqui às conversas de corredor, elevador e mercado, normalmente as mais impróprias…
A última nesses dias tem sido: "Aproveita pra dormir, porque daqui a pouco…" 

Se alguém pudesse me ensinar como se aproveita o sono aos 9 meses de gravidez, eu agradeceria…Uma barriga que sai esbarrando em tudo e em todos, não encontra posição na cama para dormir e quando dorme, precisa desencalhar do leito pelo menos 8 vezes para esvaziar a bexiga, que nessa altura  da novela já está menor que um sacolé...

Poderia ficar páginas e páginas me queixando ou contando sobre a emoção de sentir ele mexer o tempo todo, poderia falar dos medos, da ansiedade, da expectativa, do apoio e torcida dos amigos e

famílias para aquele final feliz…

Depois de muito repouso para o Francisco esperar a hora certa, estou a poucos dias de seu nascimento, recebendo votos de uma "boa hora" e ansiosa para sentir a presença do pequeno pela primeira vez…Esperando que à medida do possível eu me aproxime dos instintos da índia que cuida do seu bebê sem intervenções da sociedade, em paz, imune aos palpites e comentários alheios, até que eu e Francisco nos conheçamos bem, tenhamos sintonia e intimidade, o que certamente é individual e único na relação de cada mamãe e bebê. A seguir cenas dos próximos capítulos.