O Blog

No começo eu só queria contar detalhes da minha vida em Toulouse para minha família e amigos curiosos. De repente comecei a ter necessidade de escrever, foi nascendo um diário de crônicas, foram surgindo seguidores, leitores, a vida foi tomando outro curso. Após 1 ano e quatro meses na França, idas e vindas para o Brasil estou diante de mais um ponto de bifurcação, voltando às minhas origens para dar continuação ao blog e a vida. Você está convidado a participar desses próximos capítulos e a se perder e se encontrar nessas novas estradas estrábicas.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

A tosse carioca



Sinceramente achei que passaria ilesa, ou ao menos não somatizaria aquelas mesmas sensações de exato um ano atrás. Passou rápido, turbulento, confuso e doloroso. E no dia 12 de Julho, completos 365 dias sem o Chicão, posso dizer que foi no mínimo, estranho. Eu vinha me preparando para isso, emocionalmente e espiritualmente, tentando encontrar um equilíbrio que fosse além de um contato de terceiro grau, o que me ajudou, claro, mas não foi o suficiente para eu não reviver aqueles últimos e súbitos momentos com meu pai. Passei o dia inteiro tendo inúmeras lembranças e praticamente nenhum controle sob elas. Coincidência ou não, no dia seguinte, estive a manhã inteira no hospital, com uma crise de tosse alérgica.

Ok, a data cabalística passou e eu estou melhorando. Reconstruindo minha vida aqui no Rio e contribuindo com tijolos para que minha mãe e irmã tenham novamente um alicerce.


A história de que o Rio continua lindo é bem verdadeira, e a cada fim de semana eu descubro mais um motivo para admirar ainda mais a cidade. O que tinha esquecido ou não conhecia bem em relação ao Rio é o caos no trânsito, que me parece pior do que já vivi em São Paulo; o atendimento ruim em 90% dos restaurantes e a banalidade de palavrinhas como "por favor" e "obrigada". Calma, não estou chamando o carioca nem de preguiço ou mal-educado. Sou contra os jargões repetitivos, o que gosto mesmo é de apreciar os choques culturais. Aqui é "normal" você chegar na Casa do Pão de Queijo e a atendente te dizer "Não tem mais pão de queijo e hoje não assamos mais não". Como assim? É normal não ter pão na padaria, chip na loja da Tim, gasolina no posto? Qual minha reação pra isso? Caras e bocas e algumas reclamações de vez em quando, já que mesmo muito paciente e positiva, não sou de ferro. O mais curioso é perceber que em 2 meses, isso passa a ser normal pra você também!



Se por um lado falta no Rio a delicadeza para receber os clientes, por outro sobra hospitalidade das pessoas que venho conhecendo. Não sei se é a veia carioca do nascimento ou se é uma necessidade mágica em se fazer amigos. Em pouco tempo fui abraçada por várias turmas que me ajudam tanto na adaptação à rotina carioca quanto na descoberta de mais uma Mariana. Tem a turma do surf que me tirou às 5h45 da manhã da cama quentinha, me fez ser confundida com as primas pernoitistas da Avenida das Américas e contribuiu para o meu quase afogamento. Tem a turma do Billabong hour, que me faz gastar o VisaVale da semana em apenas uma noite e fomenta a composição de novos funks "in loco". Há ainda a turma dos almoços que deixa o dia mais calórico e alegre. Sem contar a turma do skate, a turma da visita (que povoa minha casinha) e, claro minha turma/dupla amada que vive tudo isso comigo incondicionalmente!



Aí eu percebo que tossir, apesar de muito incômodo é só um detalhe, porque o tempo vai voar, a gente vai engasgar, mas vai sempre ter alguém de alguma turma que vai te abraçar e te mostrar que passar ileso pela vida não dá e no fundo nem deve ter, assim, tanta graça.