O Blog

No começo eu só queria contar detalhes da minha vida em Toulouse para minha família e amigos curiosos. De repente comecei a ter necessidade de escrever, foi nascendo um diário de crônicas, foram surgindo seguidores, leitores, a vida foi tomando outro curso. Após 1 ano e quatro meses na França, idas e vindas para o Brasil estou diante de mais um ponto de bifurcação, voltando às minhas origens para dar continuação ao blog e a vida. Você está convidado a participar desses próximos capítulos e a se perder e se encontrar nessas novas estradas estrábicas.

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Lágrimas esquizofrênicas

Mil motivos para escrever, só o tempo para imersão e concentração não andam fazendo parte do meu vocabulário. Mauricio viajando há vinte dias e eu literalmente surtando. Para temperar tudo isso, a tempestade de lembranças em torno do "aniversário" do meu pai me acompanha. 

Seria hoje. Nós comemoramos essa data tantas vezes, tantos dias 10 de Junho que não dá para passar ileso por esse dia, mesmo sem meu gordo aqui. Dá vontade de chorar. Chorar muito, que nem o Francisco quando eu tiro o pote de shampoo da boca dele. Choro sentido, choro com soluço e nariz bruxa de blair. Daí passa. Primeiro porque não tenho tido esse espaço para me acabar de chorar, é no máximo meia dúzia de lágrimas e um grito de "Fraaancissssco, não joga minha escova na privada!" Aí vem a vontade de pedir socorro, mas segundos depois já tenho de correr para socorrer o Francisco ou alguma vítima do meu bebê Suárez…

A verdade é que apesar de todo o choro engasgado, dá vontade mesmo é de comemorar…de sair de moto, de jaqueta de couro, cabelos ao vento; vontade de espalhar aquele perfume caro, que alguém comprou no freeshop e que escolho a dedo dependendo do meu humor; vontade de ir ao melhor restaurante da cidade, escolher o melhor vinho e pagar a conta de toda a mesa; vontade de ir pro Ceará, ver todos meus tios e primos, ir para as praias da adolescência; vontade de receber os amigos em casa, fazer aquele churrasco, abrir a sagrada geléia de menta; vontade de deitar na rede com o cachorro, os filhos e me balançar até pegar no sono; vontade de abrir um pacote de biscoito e devorar vendo a novela; vontade de apertar a Fabi, nossa gordinha, até ela gritar com raiva; vontade de fazer o Gilmar, o mais casca grossa do Jiu Jitsu, bater no tetagatame; vontade de dar aquele mergulho na piscina que molha o quintal do vizinho; vontade de sair pra dançar, me acabar no pancadão, sair suado e ser a sensação; vontade de cantar parabéns, aha uhu Chicão eu vou comer seu bolo, parabéns por mais um ano de vida ou de memória, parabéns pelas memórias que ficaram e me presenteiam a cada ano ou casualmente.
E que felizes somos de poder acessar nossas lembranças sem contar para ninguém, sem causar alarde, sem precisar de data ou ocasião especial…é um cheiro, um gosto, uma palavra, uma expressão, uma foto, uma piada, um sonho, um vento, um sorriso, um filho, um amor, um tudo. Tudo é capaz de nos fazer alcançar aquelas memórias que amamos e estão capilarizadas em nós, parece até que psicografamos vontades ao buscar socorro.

O como vou comemorar hoje ainda não sei, provavelmente com algumas lágrimas de nuances eufóricas, autistas e esquizofrênicas socialmente aceitas, sedentas de vinho, chocolate e memórias, certamente ao som dos risos e gritos do meu Francisco, com a cabeça e o coração no velho Francisco, meu pai, avô do novo, nosso Chicão.