Após uma licença
literária forçada, tanto pela vinda repentina ao Brasil, quanto pelas festas e
falta de internet, retomo o ano virtual sem muitas resoluções, na tentativa de
solucionar as inúmeras pendências que pairam por aqui enquanto eu tentava viver
minhas adoráveis aventuras franco-brasileiras em Toulouse.
Gostaria de
começar registrando todo meu apreço pelos nômades, ciganos, sem-terra e todos
aqueles que não sabem o que responder quando alguém pergunta: onde você mora?
Eu já sentia essa confusão de identidade quando me questionavam de onde eu era.
Falar que sou brasileira é fácil, mas definir de que estado, já é um pouco mais
complicado. Se eu digo que sou carioca, porque nasci no Rio de Janeiro, passei
parte de minha infância lá, assim como todas as férias e feriados até a idade adulta,
as pessoas (que não são da cidade maravilhosa) acham que sou metida, marrenta e
folgada. Se digo que fui criada em Campinas, o povo acha que sou uma patricinha
esnobe do interior. No Rio minha família e meus amigos zombam do meu sotaque de paulista,
em São Paulo sou marcada pelo resto de sotaque e expressões cariocas que uso. E
no fim das contas, na hora de falar da minha origem, eu sempre gaguejo, mas me
defino com uma alma e sangue cariocas regidos por costumes paulistas.
Por isso,
continuo falando dos conflitos de identidade, endereço, entre alguns outros que
guardarei para mim neste momento tentando evitar que você pense que estou numa
crise existencial.
É engraçado como
algumas pessoas tem prazer em julgar a crise alheia...e como fica bonito um
julgamento cheio de chichês e frases de efeito...até comove e arrepia. Assim,
fui rotulada de covarde, mimada, irresponsável e sonsa. Por assumir minhas
fraquezas e meus medos e por não me culpar ao me achar no direito de perder a
cabeça.
Sim, eu estive
perdida e confusa, não só em relação à identidade ou endereço...eu me perdi ao
não saber mais onde estava o amor. E falo de um amor muito maior que um coração
apaixonado, falo de uma força, de uma energia, de um poder “amor” que pode
ressignificar a vida e atrair tudo que a gente realmente ama. Por mais que eu constantemente
tenha acreditado no amor e o tenha sempre vivido intensamente, eu deixei de
perceber como irradiá-lo e como amar o que a vida me propõe.
E assim minha
grande resolução para 2012 foi voltar a amar. A minha identidade indefinida,
minhas inusitadas mudanças de morada, minhas viagens repentinas, as decisões
forçadas, o fardo inexplicado, as perdas “sem” razão, as perdas de cabeça, a
rebeldia coerente ou incoerente. Eu decidi voltar a amar aqueles que me
julgaram, aqueles que eu machuquei e até aqueles que só me dão trabalho. Pois
apesar de gaguejar ao responder de onde sou ou onde moro, o voltar a amar sem
questionar, me fez lembrar da minha essência, do meu amor por mim e dos amores
que a vida me dá. E o melhor foi concluir que tudo isso já estava em mim e a
maneira de preservá-lo é amando cada vez mais todo pedaço da minha jornada,
seja ele colorido, cinzento, horripilante ou maravilhoso. Porque são esses
pedaços que constroem a gente, a nossa personalidade, a nossa identidade...e o
endereço deles não é Rio, São Paulo ou Toulouse...não é nem perto nem longe...é
aqui, é aí: DENTRO.