O Blog

No começo eu só queria contar detalhes da minha vida em Toulouse para minha família e amigos curiosos. De repente comecei a ter necessidade de escrever, foi nascendo um diário de crônicas, foram surgindo seguidores, leitores, a vida foi tomando outro curso. Após 1 ano e quatro meses na França, idas e vindas para o Brasil estou diante de mais um ponto de bifurcação, voltando às minhas origens para dar continuação ao blog e a vida. Você está convidado a participar desses próximos capítulos e a se perder e se encontrar nessas novas estradas estrábicas.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Testando o efeito bola de neve-Pyrinées

Uma ida renovadora aos Pirineus que estão a menos de 2 horas daqui de casa...O Véi não se aguentou em ver uma rampa cheia de neve e mergulhou, nenhuma novidade pra quem já fez isso no asfalto, na areia ou dando strike em outras pessoas, certo? Imperdível o efeito bola de neve, deixa o cidadão mais tonto do que ele já é!!

Tínhamos que alugar as roupas pra esquiar e como os franceses desta região já estão muito habituados, todos vem com suas próprias roupas...Claro, no Brasil eu não alugaria um bikini...Enfin...acabei encontrando um macacão de frentista de posto...nada contra os frentistas, pelo contrário, morro de raiva quando vamos num posto de gasolina europeu  e ninguém vem por gasolina pra gente. De qualquer modo, se um frentista viesse esquiar ele trocaria de roupa, eu acredito. Resultado: depois de inúmeros capotes com a bendita vestimenta...acabei dando um novo design para o monkeysuit. O pior foi ter que suportar o Véi rindo compulsivamente e ainda depois explicar pra moça do aluguel o que tinha acontecido:
---Moça, olha..., tive um probleminha...não vou poder usar essa roupa amanhã...será que você poderia trocar? (falei isso discretamente, baixinho, no meu francês singelo), ela responde em seguida:
---Como?? (gritando) O que foi?? (Visualizem um fila de franceses devolvendo seus esquis, roupas só eu...) Ela continuou...Me mostra! Deixa eu ver!
E lá estava eu mostrando aquela obra prima para a moça e toda a fila...

Foi tudo muito gostoso, dava um pouco de raiva ver aquelas criançinhas ultrapassando a gente no começo, mas depois nosso desempenho melhorou. Afinal o Márcio não é técnico de esportes à toa, foi observando, aprendendo e me ensinando...Quando vimos já estávamos nas montanhas mais altas, levando tombos cada vez mais doloridos. Foi demais! Perfeito! O Loro nasceu pra ser treinador!


O dia seguinte foi duro, tudo doía, até o branco do olho, mas aguentamos firmes as subidas e descidas novamente, aguentamos também o aroma agradável das botas utilizadas em dupla jornada...E eu feliz demais sem o traje rasgado!
Paisagens maravilhosas, muita adrenalina et cuisine francesa! Ax-les-Thermes nos Pirineus, vale a pena conhecer!

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Lembranças da Brasília verde

Vamos lá, mais um momento desabafo. Na verdade nem aconteceu muita coisa essa semana, só os dados que eu estava coletando, ontem resolveram que não iriam ser coletados, depois da minha decepção, eu esqueci o desinfeliz do material na cantina e fui embora. Quando lembrei parecia uma mãe que esquece o filhinho dentro do carro e sai pra comprar pão, na verdade...A minha mãe tinha essa, uma característica muito forte, esquecia tudo mesmo, até das filhas. Me lembrei agora de um dia em que fomos eu, ela e Fabi comprar pão de Brasília verde suco do bandeijão...Entramos pra ver os paezinhos, lá a moça colocava luvas pra pegar o pão françes que não existe na França...Eu tinha uns 7 anos, Fabi 5 e minha mãe devia ter menos que nós duas. O sr da padaria que ficava numa das ruas de Valinhos apelidada Tobogã olhou pra minha mãe e disse com um sorriso sereno: Aquela Brasilinha descendo a rua (sozinha) é de alguém?? Minha mãe arregalou os lindos olhos azuis que não me deu e começou a correr, enquanto isso a Fabi ficou tirando meleca do nariz e eu e todos na rua observando aquela maluca atras da Brasilia, muito amor mesmo. E não é que ela entrou e puxou o freio de mão?! Resultado: levamos o pão de graça, que alegria!
Voltando à França...como minha mãe, eu recuperei o material, menos 5 kilos de preocupação...Inclusive ai de mim reclamar de alguma coisa com alguém, morar na Europa é a melhor coisa do mundo, todos queriam estar aqui. Ok, mas eu tenho direito de ter caganeira e achar ruim, de ficar triste, irritada, tenho não tenho? Se você concordou, muito obrigada, essa semana eu tava puta mesmo (desculpem o linguajar), a miss vietnã que por acaso é a corretora da imobiliária veio querendo cobrar multa da gente, até agora ela tá devendo a minha cama, to dormindo no colchão no chão comendo poeira, acordando com dor nas costas, disse pra ela que enquanto ela não cumprir o combinado eu não ia pagar nada mesmo! Eita ainda falei em francês, se desse falava em vietinamita (é assim?), mas dessa vez ainda não rolou.
Sendo assim, estou procurando outro lugar pra morar, mais perto do centro...Porque andar de bicicleta é super gostoso aqui, mas tem hora que metrô é mais viável, afinal o efeito bruxa de blair, catarro congelado é rotina, que nem as crianças da 1a série que tem aquela marquinha constante embaixo do nariz. Enfim, tá difícil de encontrar, muito mesmo...
Amanhã vamos esquiar (tentar) aqui perto, tem que sair as 5h da manhã, horário agradável, então vou indo. Só mais um detalhe, o Loro meteu a bota no coco hoje!!! Ninguém mandou ficar paquerando as francesinhas e não olhar pro chão!!!

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Baguettes radicais

Primeiro dia de coleta de dados da minha pesquisa. Pode parecer chato mas nem é porque eu trabalho com pessoas e não com ratos (nada contra os amigos ratólogos). Como diz o adorável francês com cara de alemão que mora comigo: sou humanista! Essa pessoa é a que disse que eu não parecia ter cara de quem fazia doutorado e complementou: nossa, esportes de combate, vc briga na rua?! De cara achei que ele era um ex playboy querendo ser cult, falando de poesia, que ama homens, mulheres e plantas. Agora que já vi ele torcendo fervorosamente pelo rugby francês, e debochando da lastimável performance brasileira no amistoso de semana passada, cheguei a conclusão que ele é um filhinho de papai que não pega ninguém. Voltando à coleta, foi muito legal assistir as aulas de esgrima, savate boxe francês e canne de combat.Tirando as coisas que deram errado o resto deu certo, amanhã tem mais.

Quando saí da faculdade senti muita saudade de relâmpago. Curioso porque no Brasil não aguentava mais dirigir 1000 km por semana, mas hoje, naquele frio com chuva, pegar a bicicletinha foi difícil. Mas teve a parte boa que foi parar na padaria, quer dizer na Boulangerie (mais chique). Desci preparando o discurso das baguettes que ia pedir, mas a tia que me atendeu tava de mau-humor e ignorou meu francês e escolheu ela mesma os meus pães, ok, pedi uma sacola pra carregar, afinal tava de bicicleta...Ela disse que o saco era pequeno e não me deu. Deve ter pensado, põe embaixo do suvaco! Eu saí com muita raiva, ela ainda recebeu o $$ e pegou nas minhas baguettes, sem luva, com aquele cabelo de Valderrama esvoaçando sobre tudo.
É impressionante como o povo trata mal os paezinhos...Sem o menor carinho...ah...mas quando eu coloquei as baguettes na minha cestinha, sem saco sem nada, as pessoas me olharam de um jeito, que sacrilégio...Legal, embaixo do suvaco deles que tá sei lá quantos dias sem ver uma ducha pode, na minha cestinha não...

Bom voltamos eu e as duas baguettes, que no caminho apelidei de Dayane dos Santos e Bob Burnquist depois do tanto de acrobacias e manobras que elas fizeram pra chegar aqui...Bom, uma delas já comemos.

Só pra terminar hoje no almoço tive que escolher entre duas opções no bandejinho da faculdade. Quando a moça pronunciou os nomes parecia ser a mesma coisa: algo assim: trrripe ou crripe, não entendi, e quando olhei era duro de escolher...Crepe ou tripas...tripas???? Quem escolheu esse cardápio?

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Início do blog e um mês de Toulouse. A impressora transformer

Decidi fazer um blog pra registrar o que der vontade sobre a minha vidinha na França longe da família e amigos.  Ontem fez um mês que estou aqui tentando me habituar à lingua e à distância. Se habituar a comida aqui felizmente é muito fácil, na verdade já estou tentando me desabituar, caso contrário vou ter que me habituar novamente à cara robusta que tive quando morei na Espanha. Ok, por enquanto a cara é basicamente a mesma. Não vi nenhuma balança ainda, nem pretendo por enquanto.

A cidade é lindinha, muito fotogênica, conhecida como "la ville rose" pela arquitetura de tijolinho à vista. Pra mim conhecida como "ville marron" pela quantidade de coco espalhado pelas ruas. As pessoas são muito educadas, passam por vc e sempre dizem bon jour, diga-se de passagem é uma delícia pronunciar essas palavras, o dia fica mesmo melhor e eles falam isso até de noite! Eu as vezes devo parecer mal educada porque ainda não consigo andar sem olhar pro chão desviando das obras caninas e isso me impede de ver os adoraveis franceses sorrindo pra mim...
Ontem tive uma reunião com o diretor da faculdade e a primeira  consulta no médico. Não, esses fatos não tem nenhuma associação. Fui ao médico pq estava sentindo muita dor ao movimentar os olhos...estranho, né? A gente quase não movimenta os olhos normalmente...O dr disse que é virose...o vírus na França não deixa o nariz escorrendo, dá dor nos olhos, realmente morar em outro pais proporciona muitas descobertas!

Lá na faculdade tá tudo bem, essa semana estava super contente pq finalmente aprendi (achei que aprendi) a dominar a tal da fotocopiadora, ela é tão grande, tem tantos botões e luzinhas, deve fazer café e sanduíche. Tava tudo tranquilo, eu fazendo meu xerox das folhinhas, quando de repente ela começou a abrir as bandeijas, levantar os braços, eu me afastei e fiquei observando a fotocopiadora se tornar um transformer. Que vergonha, apertei tanta coisa pra ela parar que estraguei a impressão do chefe do departamento. Eu nem 30 anos, tenho tanta dificuldade com algumas tecnologias...Pior é meu professor com 70 anos que ao tentar mexer na transformer apertou o numero 1 quatro vezes no intuito de fazer 4 cópias. Saiu andando e quando o mesmo chefe de departamento apareceu lá estavam as 1111 cópias do professor...Fotocopiadora hiper fadigada e eu não apareço por lá pelo menos até o mês que vem.