O Blog

No começo eu só queria contar detalhes da minha vida em Toulouse para minha família e amigos curiosos. De repente comecei a ter necessidade de escrever, foi nascendo um diário de crônicas, foram surgindo seguidores, leitores, a vida foi tomando outro curso. Após 1 ano e quatro meses na França, idas e vindas para o Brasil estou diante de mais um ponto de bifurcação, voltando às minhas origens para dar continuação ao blog e a vida. Você está convidado a participar desses próximos capítulos e a se perder e se encontrar nessas novas estradas estrábicas.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Gente de seda, China de lona



11 meses de Toulouse. 5 meses que perdi meu pai. Após 10 dias na China me perguntei o que mudou desde o dia em que o beijei pela última vez. 2 respostas: nada mudou; tudo está diferente.

Nada mudou. Continuo sem ver-lhe, ainda sonho com ele todas as semanas, penso em ligar pedindo um conselho, sigo querendo contar tudo o que tenho feito. Sinto o cheiro dele vagando pelo ar, lembro de todas as expressões de alegria, tristeza, ansiedade...vida. Tenho crises de choro repentinas, vejo fotos sem parar, o amor continua inabalável.

Tudo está diferente. A começar por mim. Eu que sempre pensei que morreria junto com ele no dia que isso acontecesse. Estou aqui, viva. Não farei juízo de valor sobre como está a vida. Mas a verdade é que eu segui em frente. Sem clichês, nem demagogia. Alguns passos eu que dei, outros o universo deu por mim, outros ainda fui empurrada a dar. Sentido nem sempre eles fazem.



Assim como a China e seus 1 bilhão e meio de habitantes. Mesmo depois de se render à Mcdonaldização ainda passeia sobre mudanças e constâncias. Mudança porque é possível beber coca-cola tanto quanto se come noodles (o macarrãozinho chinês). Constância, porque mesmo depois da teórica queda da muralha comunista, o facebook, youtube, e até este singelo blog são proibidos.
Na verdade com dizem os professores de física, tudo é uma questão de ponto de referência. Portanto, deve-se olhar a China através de outro prisma que não o exclusivamente ocidental. A noção de limpo-sujo, barato-caro, bom-ruim, tristeza-felicidade me atormentava nas horas vagas, mas foi mesmo no mercado da seda (onde você compra tudo o que quiser, pelo preço que achar justo) é que parei para refletir sobre uma frase que ouvi da minha primeira psicóloga, há uns 10 anos atrás.

Há pessoas que são de seda, há outras que são de lona.

Eu que não muito conhecia sobre a seda, além dos vestidos das mocinhas das novelas e dos pijamas da Júlia Roberts. Tampouco sobre lona, aquilo que cobre os caminhões, tem cor laranja e faz parecer que todos levam a mesma carga.

na análise conversávamos sobre pessoas que são como a seda, diante de qualquer dificuldade ou tropeço se enrugam, ficam feias, se amarrotam. Já as de lona, segundo a terapeuta, quanto mais chuva levam, quanto mais são escovadas, mais brilhosas e bonitas elas ficam. Assim, dos 19 aos 29 me defini como uma pessoa de lona, que encara o que aparece, leva sacodes, aguenta as tempestades e não deixa a tristeza vencer. Definiria assim também as adoráveis chinesas trabalhadoras do mercado da seda, com toda aquela seda fiz uma amiga e ela me contou sorrindo, que aos 17 anos, ela e muitas outras trabalham de 9h às 21h, de segunda à segunda, com apenas uma folga mensal, ganhando o equivalente à 25 reais por dia...Portanto eu digo: elas são de lona! Além do chinês (até pra elas deve ser difícil) falam inglês e espanhol (ainda que como o cebolinha: um lelógio lolex custa tlês eulos) dão o sangue e te obrigam a comprar numa ginástica capitalista incansável, mesmo não ganhandonenhuma comissão para isso. Se são felizes eu não perguntei, pareceu ser muito natural viver assim e no fim das contas os chineses não esboçam demasiadas emoções, me parece que levam uma vida de lona vendendo seda.


Apesar de sempre ter admirado a definição da lona e no fundo, ter julgado aqueles de seda, eu me olho agora tão igual e tão diferente de 5 meses atrás. Tão mais frágil, tão mais seda. Mas afinal, qual o mal em ser de seda? Além de agradável, confortável, ela é sensível, delicada e mostra suas marcas. Qual benefício em ser lona? Toma chuva, sol, desbota, ninguém nota.
E quem disse que as pessoas tem de ser um ou outro? O bom é poder ser bonito e sensível como a seda, forte, inabalável como a lona. A seda nem sempre vai fazer pijamas e nem a lona será sempre laranja. A China vai continuar vivendo da seda mas ainda deve resistir à mudanças, como a lona. Já a Mariana, entrelaçou seda e lona, para seguir adiante, esperando que sua história e suas lembranças possam ser preciosas como a seda e porque não, eternas como a lona.


terça-feira, 22 de novembro de 2011

Palavras estrábicas, olhos que falam


E disse Liesel: “Eu amei e odiei as palavras” terminando a história da “Menina que roubava livros” e que se apegou às palavras para sobreviver às destruições da segunda grande guerra. Mesmas palavras que Hitler, o fuhrer, utilizou para conquistar sua fanática, suástica legião. Mesmas palavras que eu uso para chegar até você ou à mim mesma. Ora perdidas, ora amarradas, ora barulhentas, ora caladas. As palavras.
 Acho que como Liesel, eu sempre me apeguei às palavras, talvez uma explicação para eu gostar tanto de aprender outras línguas, escrever cartas, falar pelos cotovelos (escrever um blog!). Me lembro do pequeno príncipe dizendo que a “linguagem é fonte de mal entendidos” e quiçá por isso muitos escolham falar com o corpo, com as mãos, com os olhos.
 Os meus olhos por exemplo, costumam ser notados pelos outros. Não por sua cor, embora minha mãe pudesse ter sido mais generosa e me transmitido os genes da cor azul, ao invés da tendência à celulite. Também não é pelos cílios grandes e penteados que não tenho, nem por serem olhos grandes e avassaladores ou número 43. Meus olhos são pequenos, franzidos e...sim, tortos. Sou estrábica, mas muita gente (os inconvenientes) me chama de vesga. Talvez você nunca tenha notado, mas isso é curiosamente real.
A minha mãe, pessoa muito preocupada com a beleza desde minha infância, implicava com várias coisas em mim e assim eu usava pregadores de roupa para afinar o nariz, calça pantalona para esconder o bumbum grande e as pernas finas, botinha de chumbo para desentortar os pés, tênis 2 números menor para disfarçar o formato adolescente L, camisa até o joelho e 3 tubos de pasta d’agua para não ficar negra na praia. Até o dia em que ela se superou e me levou ao médico, cismando com meu estrabismo. E eu pensando porque raios não nasci mais bonitinha, ia ganhar várias horas jogando queimada, assistindo Indiana Jones, comendo pão de queijo...
---Olha doutor, presta bem atenção nos olhos dela (meus olhos nessa hora diziam: é agora! Vou assassinar esses dois!), são tortinhos não são?
E eu olhando de um lado para outro, imitando a Monalisa com fome, até que o tal do doutor emite o diagnóstico.
---É...me parece que um olho está atrasado em relação ao outro, como se demorasse mais tempo para chegar ao mesmo lugar. Eu só pensei: tá! E daí?--- Ele complementou: 
---Então ela precisa exercitá-los para que eles se sincronizem. Continuei pensando: Como? Com música, seu infeliz?
E horas depois estava eu em casa, frente ao bendito, maldito espelho com uma caneta na mão, diante do rosto, seguindo-a de um lado para o outro, prestes a enfiá-la em um dos meus olhos ou nos de quem me visse fazendo aquilo.
O que há de errado em um olho chegar um pouquinho mais tarde que o outro? Enquanto um se desespera vendo o mundo desabar, o outro pode ainda estar aproveitando a última paisagem.
Eu até vejo um lado bom em tudo isso (só não sei qual olho vê primeiro). Acho que no fundo, são esses tais olhinhos dessincronizados que hora ou outra são conquistados, hipnotizados, encantados, emocionados quando saem conversando por aí. São esses olhos confusos que se apegaram às palavras do papel e do olhar, para tentar enxergar no outro uma beleza maior que um nariz empinado, um olho azul ou um pé de princesa.
E com eles dois ao mesmo tempo, eu olho para essas palavras fixamente, na ânsia de dizer um dia, que elas me salvaram, ainda que como Liesel, eu já tenha odiado palavras e olhos alguma vez.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Reflexões de um faixa-preta

Quem sou eu para questionar os caminhos da vida? Para pedir que ela vá mais devagar, acelere, vá sempre na mesma direção, faça uma curva ou não avance um sinal? Uma Zé ninguém mesmo! Às vezes naquela hora de deitar a cabeça no travesseiro eu peço, juro que peço, para não ter que tomar decisões precipitadas, para não deixar a tristeza me vencer, para sempre fazer o bem ou ao menos ter força para tentar. Mas na real, não sou eu quem programa o GPS da vida. Eu acho que na verdade, ela faz o que quer da gente, ora com uma folguinha para respirar, ora te estrangulando até você bater. E olha que eu sou daquelas que prefere dormir à bater nessa hora. Mas outro dia na academia, enquanto lutava com um faixa-marrom super invocado, ele pegou meu pescoço e eu fui enlouquecendo por dentro para sair, até que comecei a ficar roxa e nem as mãos encontrava para bater. Moral da história: bati com os pés, quase dormi no tatame e saí sem conseguir olhar pro lado de tanta dor. Me perguntei porque não bati logo que começou a doer? 
E te respondo com segurança: Por que às vezes, na ânsia de teimar com a vida, a gente ultrapassa nossos limites até se machucar! Mas, nada como se render por alguns momentos, esperar a dor passar e partir pra cima do próximo adversário. Lições de uma faixa-preta meio aposentada, mas ainda entusiasmada para pegar muitos braços, pernas e pescoços, não só no tatame.
E esse negócio da vida ir passeando desvairada e imprevisível é em algumas ocasiões um pouco trágico, engraçado e porque não dizer, até emocionante. Como a luta e suas reviravoltas, nada como sair dela com a cabeça erguida e a sensação de se dar o sangue, mesmo batendo às vezes.
Posso dizer que me encontro um pouco assustada com o trajeto dos últimos meses e angustiada com o percurso, sem saber onde vou chegar e porquê estou indo. De qualquer forma, sigo tentando ver as flores no caminho, pronta para finalizar ou ser finalizada outra vez.



quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Paris e a liberdade de Zenaide

Conheço muitas mulheres fabulosas, a começar pela minha saudosa avó, uma infinidade de bondade e amor. Poderia falar da minha psicóloga e sua sensibilidade, exuberância e inteligência. Ainda falaria das minhas tias e suas peculiaridades, como o companheirismo, o caráter, ou até mesmo de grandes amigas e lições que me ensinaram. Mas hoje falarei de Paris e de Zenaide.
Num súbito convite para subir ao norte da França em sua singular capital, Zenaide decidiu me acompanhar em mais aventuras franco-brasileiras. Cheguei sozinha, já espertinha com os trâmites franceses de transporte e afins, o problema notei ao me aproximar do hotel: escolhi o pior bairro para me hospedar em Paris (obviamente o preço foi o critério de seleção). Ainda há aqueles que digam que Paris é toda linda, por onde você passa se apaixona. Se eu estivesse indo pela primeira vez, terminaria o namoro com a cidade luz por ali mesmo. Mas você está em Paris, portanto releve esse bairro sujo, horrível e sem calçadas, passe por quarenta estações de metrô e desça na Champs Elysées, reclamona! Foi exatamente o que fiz e entre passos e espaços esperei Zenaide chegar.
 Eu e Zenaide trabalhamos na mesma universidade no Brasil e agora ela estuda em Portugal. Lembro-me da primeira visita que nos fez depois de um ano no luso-doutorado, ela parecia "Tiêta do agreste" voltando para a terra natal, cheia de ouros, cabelos ao vento, casaco até o joelho e poder, muito poder. Sempre achei Zenaide poderosa. Um jeito único de olhar a vida, como se tivesse aprendido incontáveis lições a cada ano de suas primaveras, uma independência, uma alegria, uma loucura antagônica, ela pode ser livre, apaixonada, comprometida, calada, não importa, Zenaide contagia com a leveza de seus sorrisos e profundidade do seu olhar.
Me imaginem então, encontrando Tiêta, já há umas 6 horas sem conversar com alguém (uma eternidade para uma pessoa como eu), sobrou muito assunto e Paris, aqui entre nós, ganhou ainda mais brilho, ficou, segundo Zenaide, fabulosa!  Até o bairro sem-vergonha deixou de chamar atenção ao receber a "Liberdade de Zenaide". E ela me consolou em todos os momentos difíceis, fosse na compra errada, no quebrar o que acabara de comprar, fosse ao perder um pedaço do dente cortando uma etiqueta, sempre ouvia Zenaide e o lado leve e positivo de ver os acontecimentos. E assim pode ser Paris, tudo que se vê nos filmes e ainda também, o que não se vê. Sigo enfatizando o valor das pessoas ao nosso lado, as cores mudam, nós também. Só lamento Zenaide ter partido antes e não me consolar no momento em que besuntei minha boca com um gloss (presente da minha "vaidosa" irmã) e acabei bebendo perfume. Hálito exalando flores e eu cuspindo pelas ruas parisienses. 

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Nove meses de almoço: a história da Maria


Muitos amigos meus diriam que eu sou uma pessoa tranquila de conviver, alguns me acham meio boba quando relevo demais as coisas, já outros se divertem com meus comentários em relação a algumas situações na vida...E por aí vai, a cada dia uma Mariana. Hoje acabo de me irritar. Percebi que os franceses tem pouca memória a curto prazo ou fingem que tem. Pois veja, outro dia saí feliz do almoço porque acreditava ter encontrado companhias para saborear diariamente a cuisine francesa de 3,00 da faculdade. E eu me julgo uma pessoa fácil de fazer amigos, que venham os amigos, sem nenhum preconceito de religião, cor da pele, preferência sexual, o bom mesmo é conhecer as pessoas e se modificar com o que elas te proporcionam. Ok, dentre esses tais novos amigos por exemplo, havia a Maria, a mais comunicativa. Me identifiquei com ela, principalmente porque ela também puxava assuntos, e não era só eu a brasileira esquisita que ficava fazendo perguntas. Porém, o que ninguém percebeu foi a dificuldade que eu tive em entendê-la. A Maria é uma negra linda, com um sotaque próprio dos franceses negros (quase um dialeto) e pra piorar a prova de compreensão oral, a garota era gaga. Sim, um baita de um sotaque estranho e ainda emperrava ao falar as coisas. Mas eu sou tolerante e mesmo quando queria adivinhar o que a Maria falava, eu me continha, porque sei que normalmente a gente erra e irrita o gago. Só a título de contextualização, a Maria é funcionária da faculdade onde está o meu laboratório e como meu diretor de tese já é aposentado, eu fico bastante sozinha durante o dia e a hora de fazer novas amizades é o almoço. Claro que eu conheço algumas outras pessoas, professoras pesquisadoras no mesmo departamento, elas já são um pouco mais velhas, devem ter netos ou bisnetos, mas mesmo assim eu gostaria de almoçar com elas. Entretanto meus caros, acho que a recíproca não foi verdadeira. Agora pouco, quando fui sozinha almoçar, servi meu singelo pratinho com pato, batatas e cenoura, procurei alguma cara conhecida no refeitório, e tudo que minha visão míope me permitiu enxergar foi a Maria numa mesa toda ocupada. Me sentei sozinha a observar o movimento, quando entram pela porta (pela janela é que não ia ser) as duas professoras que descrevi acima, uma mais cheinha a outra bem magrinha, acenam pra mim e vão se servir (nessa hora pensei, ótimo, terei companhia) logo me levantei e fui encher uma garrafa d’água para nós três, melhores amigas. Coloquei a água sobre a mesa e então: as duas reumáticas passaram por mim e se sentaram na mesa mais distante da Mariana, porém perto da Maria. Como assim? Elas não me conhecem, não se lembram de mim? Queriam contar algum segredo entre elas? Talvez eu nem entendesse o francês arcaico que utilizariam. Ah, droga, sim, comi todo meu pratinho sozinha, me levantei e ao abrir a porta para sair, eis que vejo Maria e o máximo que ela faz é me olhar e dizer: Sa-Salut! Complicado entender os franceses, eu celebro hoje meus 9 meses aqui, esperando dar a luz à pelo menos novas companhias para o almoço.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Um Mestrado em agradecimento

Um breve post, já que estou escrevendo (ou tentando) a metodologia do meu trabalho em francês e enquanto fui consultar minha dissertação de mestrado acabei me deparando com meus agradecimentos, feitos em Novembro de 2008. Não é que parecia que eu tinha acabado de escrever?! Então vou registrá-los aqui, resgatando ótimas lembranças da minha defesa e de todos que agradeci naquela época e continuo agradecendo. Você que está lendo, me diga se encontrou em algum momento:

Agradecimentos
Àqueles que brilham como o sol na minha vida,
 Que me dão energia, intensidade e cor,
 Inspirando-me a discutir, refletir, fazer melhor,
 Àqueles cujo brilho me faz brilharem os olhos todos os dias, 
Cuja ausência me deixa incompleta, 
Àqueles que estão sempre ao meu lado, a minha frente, ou me carregando no colo, 
Àqueles cuja presença é um motivo para sorrir, 
Cujos conselhos são sempre guardados, 

Àqueles que me fazem sentir ímpar enquanto são meus pares,
Àqueles que enxergam além do que vêem os olhos e me ensinam a fazê-lo, 
Àqueles que estiveram comigo quando o sol nasceu e se pôs, 
Quando o céu estava azul, cinza ou colorido, 
Àqueles do sangue, do nascimento, do crescimento, do amadurecimento, 
Àqueles que me cuidaram e me ensinaram a viver,
 Àquele que é meu herói, irmão, companheiro, confidente, pai, 
Àquele que é meu sol, mesmo quando está escuro, 
Àqueles da família, da infância, da escola, da academia, 
Àqueles da faculdade, da sala de aula, dos corredores, meus professores, 
Àqueles do trabalho, do descanso, das horas vagas, de todo o mundo, 
Àqueles que continuam até hoje, de todas as horas, do coração, 
Da vida toda,
Àqueles cujos pedaços carrego comigo e cuja existência faz de mim alguém constantemente feliz.


Termino com um aperto no peito, um suspiro e um puxão de orelha do meu superego me mandando voltar já ao trabalho.





sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Vodka balalaika no copo dos outros é refresco

Estou me sentindo uma alcoólatra em tempos de reabilitação. Não porque esteja bebendo muito (apesar de às vezes ser uma opção interessante, ainda mais em terras francesas), mas porque me lembro que quando alguém pergunta numa reunião de "ex-alcoólatras" como se sentem, eles costumam responder algo do tipo: estou limpo há 4 dias, 5 horas e 23 minutos. E assim estou eu, quando alguém me pergunta e aí Mari, tudo bem? Nesse momento eu responderia: estou limpa há 1 dia, 17 horas e 55 minutos. A diferença entre mim e um alcoólatra, além dos litros de bebida, é que eles escolhem beber e eu sou embriagada pelos outros. Não entendeu nada? Pois é, eu também não entendo porque as pessoas insistem em achar que eu tenho que beber e digerir a cachaça alheia...
Falando em pinga, lá em Londres só bebi tap water, sim, água da torneira, pronunciada com acento britânico e ao preço de zero pounds. Ô moedinha pra ser cara essa...E fui encarando a viagem como um momento de purificação, tanto pelo distanciamento do bar em que eu vivo, quanto pelo trabalho, que foi estar em companhia super agradável durante o seminário de chefes de missão dos próximos jogos paraolímpicos em 2012. Conhecemos as instalações e não nos surpreendemos com a pontualidade britânica nas entregas, afinal de contas eles são britânicos! Mesmo com a agenda corrida tive oportunidade de visitar o Instituto Nacional de Cegos e ajudar o Mizael (vice-presidente do Comitê Paraolímpico Brasileiro) a comprar uma bengala nova e um detector de cores, sim, ele diz qual a cor da roupa q vc está usando, sensacional! Entre todas invenções para facilitar a vida dos cegos, tinha inclusive um óculos que vibra quando se chega muito perto de alguma coisa, eu até procurei um desmaterializador (para facilitar a minha vida de vez em quando), mas me parece que ainda não está disponível na Inglaterra.
Por instantes me senti a pessoa mais chique da cidade, por ter meu nome na lista da imigração e ser buscada por uma BMW recém saída da fábrica e jantar ao moldes da corte real. Já em outros momentos me senti a mais caipira, quando parei na porta do carona da tal BMW e fiquei esperando o motorista abrí-la. Achei o sr. muito mal-educado por abrir a porta, entrar, fechar e me deixar pra fora. O que não notei de imediato foi o volante que também estava daquele lado. Disfarcei e entrei atrás mesmo.
E nessas aventuras que não foram franco-brasileiras, nem em Toulouse, quase derrubei o ceguinho na escada rolante e no auge da minha pró-atividade fiz uma turma de 8 pessoas se perder no metrô ao utilizar meu atualizado mapa "underground 2006".
Uma semaninha pra rever as amadas tias internacionais e me preparar psicologicamente para as doses de vodka balalaika (argh) que estavam por vir. E assim vou eu, entre um limão azedo, uma limonada e uma caipirinha, tentando permanecer limpa nas próximas horas.


segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Os pedreiros e o mestre-de-obras

Cheguei em Toulouse. A primeira coisa que pensei foi em ligar pro meu pai pra contar que tinha dado tudo certo. Bom, não deu, ainda não achei na França cartão telefônico intercelestial. Foi bom respirar ares franceses novamente, até o motorista do busão me dar uma patada, aí caiu a ficha de que já tinha chegado realmente. O mais legal foi ver que não me abalo mais com esse comportamento inconveniente, estou feliz de ter voltado.
Nesse tempo que passou achei várias vezes que desistiria, pelo tanto de coisas que foram aparecendo no caminho...No fim das contas percebi que a minha própria vida deve ser uma prioridade pra mim.
Aprendi tanta coisa em tão pouco tempo...por exemplo...não importa o quanto você se planeje, tudo pode mudar de repente e você nunca mais será o mesmo. Por isso é importante dar aquele beijo, dizer aquele negócio, comer aquele brigadeiro, comprar aquele vestido, tirar aquela foto. Depois pode não haver mais "aquilo", sua vida vai continuar e você talvez possa ter tido segundos de felicidade dos quais se lembrará eternamente.
Aprendi que por mais que a gente peça algo, com todas as forças, não ser atendido não significa que você pediu errado, ou que sua fé é fraca...o pedir faz bem pra gente e na hora não dá pra entender que o melhor para nós pode não ser o melhor para o outro (isso até agora estou digerindo). Posso até dizer que aprendi a rezar. Sempre tive o hábito de fazê-lo, entretanto, diante dos acontecimentos, me vi perguntando para muitas pessoas o melhor "jeito" de rezar...Mas também não vou te contar, cada um descobre isso de uma maneira.
Além disso, aprendi que na hora em que o mundo está desabando, sempre aparece alguém pra piorar as coisas. E elas pioram, eu te digo, como elas pioram! Mas aí aparecem cem outros alguéns pra te ajudar a assentar toda a poeira e recolocar tijolinho por tijolinho. Uns você já estava esperando, pois sabe que eles sempre estão ali, outros que você espera, simplesmente não dão as caras, e outros que você nem imaginava, te surpreendem chegando já uniformizados. Foi assim que consegui voltar para Toulouse e continuar vivendo e escrevendo as benditas "aventuras franco-brasileiras"... porque um tal "mestre de obras", desde que nasci, colocou na minha vida esses pedreiros sensacionais e inigualáveis para me pintar de outra cor, rebocar minha tristeza, me ajudando a recomeçar depois da destruição, me reconstruindo. Eu agradeço a você que por algum motivo também voltou a me ler (você deve ser um pedreiro). De qualquer forma, minha mochila com guarnições e primeiros-socorros já está pronta...vai que o engenheiro da vida resolve dar novas ordens?

sábado, 16 de julho de 2011

Muito prazer, eu sou a filha do Chicão!

 Você me deixou. Justo você, meu primeiro amor, meu grande amor. Acho que desde que nasci me derreti por você, pelo seu jeito de me olhar, de sorrir pra mim, de segurar a minha mão, de me pegar no colo. Me apaixonei pela sua voz, pelo seu cabelo, pelo seu tamanho. Pelo seu cheiro, pelo amor que você esbanja, pelos carinhos que cearenses que você me faz. Você é lindo. Eu gosto de tudo em você. Gosto quando me sequestra para a praia, para o jogo de futebol. Gosto do teu time e das canções proibidas que você me ensina. Gosto dos teus amigos e de te assistir a jogar. Gosto de ir com você à faculdade e ver o sucesso que você faz. Até de saber que você colou na prova e que aquela morena te paquerou...Como gosto de guardar os teus segredos. Adoro quando você me leva para o trabalho e me ensina o que sabe fazer.

Gosto quando você me assiste a nadar e jogar bola.

Gosto de engraxar teus sapatos e de lavar teu carro. Gosto de pegar jacaré com você, de nadar até o fundo segurando nas tuas costas. Gosto de te deixar orgulhoso, de ir pra academia com você. Gosto de andar na tua garupa, de abraçar o meu gordinho e de dirigir a tua moto.  Gosto de lutar com todos os meninos, de fazer aquela chave que você me ensinou e a passar a guarda do teu jeito. Gosto de te ter comigo em todas as competições, de te ver gritando à beira do tatame, de ganhar a luta e correr pra te abraçar. Gosto quando você me entrega as medalhas e me consola nas derrotas. Gosto do teu entusiasmo, alegria, bondade e da tua fé. Gosto de te ligar a qualquer hora, de puxar a tua orelha, de te colocar na linha. Gosto de ter você nas minhas formaturas, no mestrado, na monografia. Gosto de deitar no teu peito e apertar tua barriga, de te entregar o primeiro pedaço de bolo, e com você me parecer.  Gosto de mostrar a todos o meu pai e dizer como me orgulho de você. Gosto de te amar assim e isso sempre vai me fortalecer. Aquilo que não gosto, te perdoo de coração, porque para sempre eu serei a filha do CHICÃO.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

A rapoza e o príncipe

Os 35 graus quase cotidianos de Toulouse no verão vem despertando em mim cada vez mais satisfação em estar aqui, tanto pelo numero de pessoas na rua, (no inverno a cidade parecia tão desabitada) quanto pela dúvida de continuar que ainda paira diante das incertezas familiares. Andar de bicicleta tem mais sabor, o vento que bate parece mais fresco, o sol se poe mais colorido, os dados do doutorado se enriquecem, o francês já sai com mais facilidade, a comida é insuportavelmente boa, o olhar no espelho é melhor refletido, o treino de jiu jitsu é mais prazeroso, os amigos já são amigos...



Tudo isso me faz lembrar uma passagem do meu livro de cabeceira "Le petit prince" já lido e relido agora em versão original (ainda com ajuda do google de vez em quando). Existe uma conversa entre a rapoza e o pequeno príncipe sobre o significado do verbo "apprivoiser"...Em português traduzido como "cativar" e eis a frase famosa, muitas vezes banalizada "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas". Em francês, esse verbo inicialmente tem o sentido de domar, domesticar, amansar ou ainda se familiarizar progressivamente ou reduzir as reticências de alguém. Antes de chegar ao clichê a rapoza tenta explicar ao princípe como se "apprivoise" alguém...Primeiro sendo paciente para a cada dia se sentar mais perto da pessoa, trocando só alguns olhares, depois algumas palavras, até que quando menos se espera você já o "apprivoisé". O curioso é o príncipe não entender o porquê de se fazer isso quando se sabe que o outro vai partir; e a rapoza esclarece que mesmo após a partida daquele que foi "apprivoisé" (entenda-se cativado) a possibilidade de poder se lembrar com ternura daquilo que se viveu ao lado do outro já faz valer a pena cativar e ser cativado. E pra mim essa é a delicadeza mais verdadeira do processo de se apegar a alguém.

Por isso meus maiores presentes são sempre as pessoas que conheço, não importa em qual lugar do mundo, qual sua religião, alimentação, mania, defeito ou qualidade. Poder guardar poucos ou muito momentos com alguém que te cativou, te torna responsável por estas lembranças...Então acho que posso dizer que pouco à pouco eu fui "apprivoisé" pela França e tudo de bom que há nela e essas lembranças agora já são parte da minha história e sempre, eternamente, valerão  a pena.

sábado, 11 de junho de 2011

O jardim dos porquês


Acho que todo mundo tem na vida aquela pessoa sem a qual não imaginamos a nossa existência. Talvez algumas pessoas tenham mais do que uma. Não me refiro à namorados, maridos ou companheiros. Na minha vida essa pessoa é meu pai, meu salvador, meu irmão, meu parceiro de todas as horas.
Já vivi muitos momentos que pareciam ser os mais tristes da minha vida e que isso não soe como uma reclamação ou um melodrama. Entretanto, acho que nunca tive muito tempo para perguntar os “porquês” . Porque tenho uma irmã deficiente? Porque minha mãe não tem jeito de mãe? Porque ela abandonou as filhas? Porque a minha irmã não entende isso? Porque eu tenho que ser mãe delas? Porque eu tive que internar minha mãe a força? Porque minha irmã entrou em coma quando eu estava sozinha com ela? Porque, porque, porque? E que se danem os porquês... Juro que nunca fiz tantas perguntas como agora. Mas nem quero saber as respostas... Descobri que tenho em mim um solo fértil de onde brotam flores coloridas e arvores fortes cheias de entusiasmo, energia, sorrisos...Isso também não sei porque, mas talvez responda porque já consegui tantas coisas maravilhosas até hoje.
Ontem, dia do aniversário do meu pai, eu tive uma notícia e aí sim, eu questionei o “porquê” e me senti no momento mais triste da minha vida. Aquele cara, que apesar dos tropeços, protegeu o solo Mariana do vento, do sol, dos monstros, regou aquelas plantinhas, as ensinou fechar os olhos quando tudo estivesse de pernas pro ar...Aquele cara que semeou muitos outros sentimentos, adubou o terreno “filhas” com alegria, de coração aberto....Aquele cara, aquela pessoa responsável por quem eu sou hoje, está agora no hospital, com leucemia, sendo espetado por mil agulhas, enfermeiras e médicos... Poderia colocar aqui tudo que estou sentindo agora e talvez por isso tenha começado a escrever, mas sinceramente ainda não sei o que colocar.
Porque? Deve haver um possivelmente, talvez eu nunca descubra, não faz mal. Por enquanto vou regando meu jardim com minhas lágrimas, esperando o sol nascer de novo trazendo novas perguntas. De qualquer forma: Eis o mistério da fé!

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Robin dos Bosques e as línguas portuguesas

Almoçando em Portugal: Entrada, mais prato principal, mais sobremesa, mais uma taça de vinho= 5,90 €...Fazer o pedido e ser compreendida, não tem preço! E assim passei os dias em terras lusitanas me surpreendendo com o preço (baixo) das coisas e achando o máximo poder falar tudo o que eu queria, com meu sotaque e ser entendida na maioria das vezes. Isso porque apesar da língua ser a mesma, a maneira de entender o outro é muito diferente. Sempre vi minha mãe e todas minhas tias abominarem piadas de portugueses contadas pelos outros, entre elas era permitido.

Claro, com toda família descendendo de "Trás os Montes", o sarcasmo alheio não podia ser permitido. Entretanto, me lembro de ver minha mãe inúmeras vezes com um jornal na mão, lendo todas as notícias e verbalizando o sotaque da minha falecida bisavó, eu morria de rir. Não entendia quando criança porque elas diziam que o português chamava o elevador gritando: elebadorrr, elebadorrr...Meu avô não se chamava Manoel, mas minha mãe sim que é Maria e estar esses dias sozinha na terra dos meus antepassados fez com que me sentisse praticamente em casa. Comi feijão, linguicinha, couve, farofa e fui muito bem tratada, com muita fartura ao som melódico do português de Portugal.


No primeiro dia perguntei ao rapaz da informação turística: Moço, se eu pegar o ônibus X eu vou para o centro? E ele responde: pois se aguentares com ele, vai sim. E complementou dizendo o que ônibus era pesado. Depois que "peguei" o ônibus, já para a cidade do congresso, o mesmo fez uma parada, desci na mesma hora para me esticar e comprar uma água,  quando retorno percebo que era um motorista diferente, ele me pediu o bilhete para entrar no ônibus, automaticamente eu respondi: eu já estou lá dentro moço, desci só um minuto; ele responde em seguida: não estás lá dentro não, estás aqui fora, tens que me mostrar o bilhete...Eu respirei fundo, ri por dentro e reformulei a frase. Pensando bem, ele tinha toda razão, eu que fui estúpida em dizer que estava dentro do ônibus, quando na verdade estava do lado de fora falando com o motorista!

Os dias foram tão agradáveis e o congresso (de artes marciais e esportes de combate) perfeito, gente do mundo inteiro, mil idiomas zanzando pelo auditório, trabalhos muito bons e energias muito positivas que se propagavam com mais intensidade sob os 30º graus portugueses.

 Dentre todos os momentos sérios de um congresso os mais marcantes ainda são aqueles que fazem a gente rachar de rir, e assim saímos os congressistas para passear pelas agradáveis ruas de Viseu...

Nos deparamos com uma bandinha (chamada de tuna, com alunos da faculdade), paramos todos para assistir e os professores de defesa pessoal da Republica Tcheca me pediram para traduzir o que a banda cantasse...Elas começaram dizendo: Merda, a democracia, lalala...Eu simultaneamente: Shit, the democracy lalala...Eles atentos à minha performance, então no refrão elas começam: Os putos, os putos, os putos (leia-se ux putux, com sotaque), eu batendo palmas cantarolei: the motherfuckers, the motherfuckers, the motherfuckers...Os tchecos de olhos arregalados foram surpreendidos pelo salto que nosso amigo português deu quando me ouviu praguejando frente à igreja...Ele disse alto: não Mariana, putos são miúdus, meninos pequenos...Eu: Ow I´m sorry for the translation!! Fiquei roxa de tanto rir e acabei  me esquecendo de lhe perguntar qual seria o feminino para meninas pequenas, miúdas...Melhor não saber mesmo!



O mais legal foi ver na livraria o best seller Robin dos Bosques (Robin Wood)! Tudo bem, lá no Ceará (terra da outra parte da família) chamam o Harry Potter de macumberinho de 12 anos... E eu sempre me divertindo com as diferenças culturais!

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Fritando um ovo durante o casamento real

O post dessa semana deveria ser em francês para me forçar a treinar essa bendita língua. Afinal tenho reunião amanhã com meu "directeur de thèse" (adoro falar isso) e tem sido um pouco difícil me concentrar nos dados e na literatura francesa após a partida do meu chéri. Voltou para o Brasil no dia do casamento real e eu me vi de repente enchendo os olhos de lágrima enquanto o príncipe se casava, isso por causa da cebola que estava cortando. Foi realmente difícil assistir à boda sem companhia. Um evento desses suscita incontroláveis comentários que merecem ser divididos com um outro alguém. E assim passei o dia completamente sozinha na frente da tv, descobrindo todos os detalhes da cerimônia, como a cor da calcinha da Vitória Beckham, o preço das luzes do Elton John, a touca que o Ian Thorpe vestirá na próxima Olimpíada. Até o polvo primo da mãe Diná tentou prever o modelo do vestido da noiva. Pude dar um upgrade na minha ignorância real, descobri inclusive, via um amigo engenheiro, num papo cabeça á beira do rio, que a Kate não será princesa, e sim duquesa, confere Lucas?
Para abandonar a melancolia da partida, fui buscar mais coisas para fazer. Entre elas malhar de manhã e treinar jiu jitsu a noite, fiquei tão dolorida e machucada que este fim de semana quando fui, solitária comer um sanduíche, uma senhora me encarava provavelmente cogitando a hipótese de dar o cartão da delegacia da mulher de Toulouse. Sim, muitos hematomas, mas diversão também. Pra ajudar alguns dos meus amigos franceses só querem falar português e cantar funks dos mais proibidos na minha presença. Altas doses de risadas e eu emburrecendo francofonicamente.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

La cuisson de la viande

Que saudades de escrever, depois de um mês repleto de diversos acontecimentos, aí vamos para um novo post. Poderia começar falando sobre as duas semanas na Turquia nos Jogos Mundiais de Cegos, escrever todas as palavras turcas que aprendi (isso ocuparia poucas linhas), poderia dizer que Alex de Souza é o maior ídolo do futebol turco (injustiçado no Brasil segundo Morato, 2011), poderia relatar todo o trabalho entusiasmante com a delegação brasileira ou ainda contar detalhes sobre meu acometimento gastro-intestinal e as horas no hospital turco. Ainda poderia contar sobre os dias ensolarados da primavera em Toulouse, os jardins e gramados floridos de gente deitada sobre eles, tentando levar o branco da pele para outro tom da escala monocromática...Poderia contar sobre o primeiro dia na academia e a aula de sh-bam (uma dança inexplicável, algo semelhante à dança do acasalamento dos pandas da China) ministrada pelas cópias de Tina Tuner e Jane Fonda...Mas hoje decidi escrever sobre a cuisson da carne francesa, ou seja, o ponto, o cozimento que eles darão ao seu pedido. Você tem três escolhas: saignante (sangrando), à point (ao ponto) e bien cuite (bem passada). Eu adoro carne e daquelas bem suculentas, mas essas escolhas acima podem se resumir a: carne totalmente crua, carne menos crua ou quase crua...Eu venho saboreando esses pedidos, mas pra quem tem restrições à esse tipo de cuisson, que venha para os restaurantes franceses preparado. Você pode pedir em inglês e ao contrário do que muitos pensam em Toulouse eles vão tentar te ajudar, os mais jovens principalmente ou se arriscar no francês... Eu beirando os quatro meses na França tento rasgar meu francês por aí, mas resulta que quem sai rasgada sou eu, cuisson saignante eu diria. Isso porque se você não fizer o sotaque perfeito deles, eles vão te olhar como se tivessem acabado de chupar um limão, fazendo cara de "não entendi o que você disse". Legal, no Brasil se aparece um gringo tentando falar português a gente adora, fica rindo, ensinando palavras e palavrões, achando o máximo, sem contar que entendemos qualquer sotaque desde do cearense, paraíba, baiano, mineiro, carioca, paulista, gaúcho...Aqui meus caros, errou o sotaque pode ir pra terapia porque a tendência é você ter cada vez mais medo de errar...Eu já estou chegando na cuisson à point, a ponto de reagir sem a devida educação, tem gente que conheço que já está bien cuite, bem passados desse mau humor, de saco cheio de tentar acertar...Espero poder não errar os próximos pedidos, se não vou acabar me tornando uma vegetariana da língua francesa.

quarta-feira, 23 de março de 2011

A Bazuca que tocava MPB


Como essa viagem foi um pouco longa, tenho várias estórias marcantes, resolvi então dividir por cidades visitadas, assim não fica muito chato pra que estiver lendo...
Pragua: sem dúvidas uma das cidades mais lindas que já vi, medieval com nuances góticas, impecável, limpa, romântica...Ok. Mas uma coisa me surpreendeu: o número de turistas...Acredito que ela é mais frequentada que a Disneylândia em Julho (nunca estive na Disney em época nenhuma, mas a imagem que visualizei foi essa). Em Março, na teoria, baixa temporada na Europa, entretanto, turistas por todos os lados...Felizes os inúmeros japoneses que estavam por lá e não em sua terra natal, by the way, minhas sinceras condolências. 
Nesta cidade fui roubada duas vezes: a primeira, um pickpocket que levou minha grana sem que eu pudesse perceber; a segunda um assalto à mão armada que me trouxe forte carga de estresse. Acalmem-se que explicarei agora. O bendito pickpocket foi o garçom de um restaurante que oferecia menus bem baratos para viajantes econômicos como nós, assim entramos,  e o curiosamente sorridente garçon, nos atendeu. Pedimos dois “gulash” prato típico de la (uma carne com molho e pão) e duas cervejas, afinal estávamos na terra pilsner. Depois de perguntar de onde éramos, o garçon, que mostrava cada vez mais os dentes, começou a oferecer coisas típicas, até que finalmente, meio que para agradá-lo, aceitamos uma dose da tal bebida famosa que é boa para a digestão. Não gostei e nem tinha muito o que digerir, ô pratinho sem vergonha...Aceitamos o café no final, esse sim ajudaria se não fosse tão fraco...Final do roubo: somando a maldita bebida, o café e a gorjeta de 20% (aparentemente obrigatória) gastamos o triplo do preço do menu...Nesse almoço foram-se os eurinhos de outras 3 refeições pelo menos. Não contentes com o habitual próprio mau humor, nos deixaram de cara amarrada também. 



Detalhe ao fundo: o tcheco estudando a extorsão



Mas nós estávamos em Praga, não podíamos fazer cara-feia! Pela noite então, fomos para o roubo número 2: escopeta na mão.
---- Olha que gracinha esse restaurante, tem música ao vivo, violão, violino, violoncelo! (Disse eu com a entonação de quem viaja e acha tudo o máximo)
---Vixe, mai deve sê caro dimais, sô, e nóis já gastamu tudo naquele tcheco viado! (Disse Véi em seu mineirês)
---Poxa Loro, vamos, vai ser legal, pra esquecer o almoço!!
Pronto, um charminho e tudo certo, entramos no restaurante. Poucas pessoas, sentamos perto da música, cerveja boa (mais um litro), até que...O violinista começou a chegar muito perto de nós para tocar...Eu rindo, o Véi fingindo que o cidadão não existia. Mas aí ele perguntou de onde éramos (será que se eu falasse que era do Japão ele teria compaixão? E chilena após o caso do mineiros? E da Líbia, Egito...?) Vai dizer que é brasileira...ele começou a tocar bossa nova...e eu com saudades tupiniquins abri mais e mais sorrisos...Mas de repente, eis que o violino, tão manso e inofensivo se transforma numa bazuca apontando para mim e eu desarmada, não sabia o que fazer...Tinha uma nota de 200 cacetinhos no violino e ele não pararia de ressucitar o Tom Jobim enquanto eu não colocasse outra nota lá...nem num baile funk eu ficaria tão assustada. Os tchecos só me faziam pensar: violino na cara e mãos ao alto, se não todos vão ficar te olhando e te fazendo acreditar que você não valoriza a música tcheca! Enquanto eu era assaltada o Loro, numa crise de ausência que só a neurologia mineira explica, se absteve da situação...Numa calma, tranquilidade...Eu em respeito a ele, roxa de vergonha, comecei a fazer o mesmo, até que outros colegas turistas entrassem e tirassem o foco do casal bossa nova....A sensação foi de assalto, mas dessa vez o dinheiro ficou na carteira!

Planeta Leste




Sim, estar no leste europeu é sentir-se em outro planeta. Apesar de ter tido a oportunidade de conhecer várias pessoas dessa origem, eu não imaginava que me sentiria tão diferente, tão estranha, tão...gentil. Isso mesmo, educada, simpática, sorridente, chamem do que quiserem. As pessoas que não te conhecem, parecem se irritar com você, seja porque você não fala o idioma



 simples e musical deles, ou por você ter uma dúvida e precisar de sua ajuda. Eu juro que comecei a me perguntar se estava descabelada demais, com mal hálito ou desodorante vencido...às vezes antes mesmo de abrir a boca, uma cara feia me recebia, um sorriso nunca, bom dia ou obrigada, muito menos. Foi esta a primeira impressão do planeta leste. Entretanto tive o prazer de estar por alguns dias com duas famílias eslovacas que me mostraram o “lado oeste” do leste...Eles: nenhuma palavra em português, nós: nenhuma em eslovaco. O Inglês também não era um idioma comum para todos. Resultado: conversamos sobre todos os assuntos, diferenças culturais, gastronômicas e afins por horas e horas (o Google tradutor e imagens era o nosso maior mediador). 
Me espantei com tantas curiosidades que eles tinham sobre o Brasil, esclareci também que apenas as mulheres que desfilam nas escolas de samba ficam sem roupas no carnaval, as outras costumam cobrir pelo menos o básico. Mostramos pão de queijo, escondidinho e cachaça e enquanto isso tomávamos hurskovica e becherovska e comíamos langos e palancinka. Balanço final: o riso é um idioma universal e sim, os habitantes do planeta leste podem rir, te tratar bem e serem muito acolhedores, só precisam te conhecer... Como eu não tinha tempo para ser a melhor amiga das atendentes das padarias, estação de trem e museos, continuei me perguntando o que havia de errado comigo e minhas tentativas de desejar um bom dia àquelas pessoas...

quinta-feira, 3 de março de 2011

Abraçai- vos uns aos outros e a mim também

Diante da aproximação do carnaval e minha ida ao cinema para assistir ao filme 127 horas, queria registrar aqui que passaremos o mais esperado feriado brasileiro (na minha singela opinião de foliã) em Toulouse, sem grande expectativas de escutar batuques ou trios elétricos, talvez a Edith Piaff cantarolando nos rádios do metro... Sendo assim, para aqueles que ainda não assistiram ao filme, vale a pena avisar a alguém onde estarão se descabelando no carnaval. Eu ainda não sei onde vou estar, mas de certo estarei incomunicável, pois mudei de casa e não tenho internet nem telefone e a universidade estará de férias. Vejam: férias obrigatórias, que coisa desagradável, vou ter que viajar!

Tive uma semana cheia de mudanças e transcrições dos dados (entrevistas em francês). Agora morando no centro tudo fica mais fácil (e caro também), mas parece valer a pena. Com quase dois meses de distância do Brasil comecei a reparar em como as pessoas se cumprimentam. Sempre com dois beijinhos que começam do lado contrário ao que estamos habituados, várias vezes deixo alguém no vácuo, acostumada com o econômico beijo que damos no estado de SP. Porém, apesar da economia, esbanjamos abraços no Brasil. Às vezes no primeiro encontro com alguém já abraçamos a pessoa, seja por amigos em comum, por uma afinidade qualquer, seja para se despedir. Nem acredito que isso seja uma banalização do abraço, mas provavelmente uma necessidade peculiar brasileira em sentir as pessoas de verdade. Me lembro quando morava na Espanha, o meu melhor amigo (espanhol) sempre dizia que quando eu me despedia das minhas saudosas amigas brasileiras, parecia que nunca mais nos veríamos...E essa cena se repetia cotidianamente. Enfim, abraçar os amigos é como comer um mousse de chocolate numa patisserie françesa, cura até depressão!


Dito isto, me peguei certo dia calculando há quanto tempo não abraçava alguém, que não fosse meu noivo amado...E isso me levou a todos os abraços que dei antes de deixar o Brasil. Ai... lembrar do aperto que meu pai me deu no último segundo que restava na fila de embarque e ver seus olhos brilhando e boca tremendo...que alegria poder ter sentido isso! Poderia ficar linhas e linhas desenhando cada abraço que dei, e isso realmente me faz  muito bem.

O cálculo final do abraço seria zero, se por um instante eu não me lembrasse quantos novos amigos eu tenho abraçado no Jiu Jitsu aqui!! Tudo bem, são abraços que possuem a finalidade de subjugar o oponente, mas são abraços!

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Testando o efeito bola de neve-Pyrinées

Uma ida renovadora aos Pirineus que estão a menos de 2 horas daqui de casa...O Véi não se aguentou em ver uma rampa cheia de neve e mergulhou, nenhuma novidade pra quem já fez isso no asfalto, na areia ou dando strike em outras pessoas, certo? Imperdível o efeito bola de neve, deixa o cidadão mais tonto do que ele já é!!

Tínhamos que alugar as roupas pra esquiar e como os franceses desta região já estão muito habituados, todos vem com suas próprias roupas...Claro, no Brasil eu não alugaria um bikini...Enfin...acabei encontrando um macacão de frentista de posto...nada contra os frentistas, pelo contrário, morro de raiva quando vamos num posto de gasolina europeu  e ninguém vem por gasolina pra gente. De qualquer modo, se um frentista viesse esquiar ele trocaria de roupa, eu acredito. Resultado: depois de inúmeros capotes com a bendita vestimenta...acabei dando um novo design para o monkeysuit. O pior foi ter que suportar o Véi rindo compulsivamente e ainda depois explicar pra moça do aluguel o que tinha acontecido:
---Moça, olha..., tive um probleminha...não vou poder usar essa roupa amanhã...será que você poderia trocar? (falei isso discretamente, baixinho, no meu francês singelo), ela responde em seguida:
---Como?? (gritando) O que foi?? (Visualizem um fila de franceses devolvendo seus esquis, roupas só eu...) Ela continuou...Me mostra! Deixa eu ver!
E lá estava eu mostrando aquela obra prima para a moça e toda a fila...

Foi tudo muito gostoso, dava um pouco de raiva ver aquelas criançinhas ultrapassando a gente no começo, mas depois nosso desempenho melhorou. Afinal o Márcio não é técnico de esportes à toa, foi observando, aprendendo e me ensinando...Quando vimos já estávamos nas montanhas mais altas, levando tombos cada vez mais doloridos. Foi demais! Perfeito! O Loro nasceu pra ser treinador!


O dia seguinte foi duro, tudo doía, até o branco do olho, mas aguentamos firmes as subidas e descidas novamente, aguentamos também o aroma agradável das botas utilizadas em dupla jornada...E eu feliz demais sem o traje rasgado!
Paisagens maravilhosas, muita adrenalina et cuisine francesa! Ax-les-Thermes nos Pirineus, vale a pena conhecer!

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Lembranças da Brasília verde

Vamos lá, mais um momento desabafo. Na verdade nem aconteceu muita coisa essa semana, só os dados que eu estava coletando, ontem resolveram que não iriam ser coletados, depois da minha decepção, eu esqueci o desinfeliz do material na cantina e fui embora. Quando lembrei parecia uma mãe que esquece o filhinho dentro do carro e sai pra comprar pão, na verdade...A minha mãe tinha essa, uma característica muito forte, esquecia tudo mesmo, até das filhas. Me lembrei agora de um dia em que fomos eu, ela e Fabi comprar pão de Brasília verde suco do bandeijão...Entramos pra ver os paezinhos, lá a moça colocava luvas pra pegar o pão françes que não existe na França...Eu tinha uns 7 anos, Fabi 5 e minha mãe devia ter menos que nós duas. O sr da padaria que ficava numa das ruas de Valinhos apelidada Tobogã olhou pra minha mãe e disse com um sorriso sereno: Aquela Brasilinha descendo a rua (sozinha) é de alguém?? Minha mãe arregalou os lindos olhos azuis que não me deu e começou a correr, enquanto isso a Fabi ficou tirando meleca do nariz e eu e todos na rua observando aquela maluca atras da Brasilia, muito amor mesmo. E não é que ela entrou e puxou o freio de mão?! Resultado: levamos o pão de graça, que alegria!
Voltando à França...como minha mãe, eu recuperei o material, menos 5 kilos de preocupação...Inclusive ai de mim reclamar de alguma coisa com alguém, morar na Europa é a melhor coisa do mundo, todos queriam estar aqui. Ok, mas eu tenho direito de ter caganeira e achar ruim, de ficar triste, irritada, tenho não tenho? Se você concordou, muito obrigada, essa semana eu tava puta mesmo (desculpem o linguajar), a miss vietnã que por acaso é a corretora da imobiliária veio querendo cobrar multa da gente, até agora ela tá devendo a minha cama, to dormindo no colchão no chão comendo poeira, acordando com dor nas costas, disse pra ela que enquanto ela não cumprir o combinado eu não ia pagar nada mesmo! Eita ainda falei em francês, se desse falava em vietinamita (é assim?), mas dessa vez ainda não rolou.
Sendo assim, estou procurando outro lugar pra morar, mais perto do centro...Porque andar de bicicleta é super gostoso aqui, mas tem hora que metrô é mais viável, afinal o efeito bruxa de blair, catarro congelado é rotina, que nem as crianças da 1a série que tem aquela marquinha constante embaixo do nariz. Enfim, tá difícil de encontrar, muito mesmo...
Amanhã vamos esquiar (tentar) aqui perto, tem que sair as 5h da manhã, horário agradável, então vou indo. Só mais um detalhe, o Loro meteu a bota no coco hoje!!! Ninguém mandou ficar paquerando as francesinhas e não olhar pro chão!!!

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Baguettes radicais

Primeiro dia de coleta de dados da minha pesquisa. Pode parecer chato mas nem é porque eu trabalho com pessoas e não com ratos (nada contra os amigos ratólogos). Como diz o adorável francês com cara de alemão que mora comigo: sou humanista! Essa pessoa é a que disse que eu não parecia ter cara de quem fazia doutorado e complementou: nossa, esportes de combate, vc briga na rua?! De cara achei que ele era um ex playboy querendo ser cult, falando de poesia, que ama homens, mulheres e plantas. Agora que já vi ele torcendo fervorosamente pelo rugby francês, e debochando da lastimável performance brasileira no amistoso de semana passada, cheguei a conclusão que ele é um filhinho de papai que não pega ninguém. Voltando à coleta, foi muito legal assistir as aulas de esgrima, savate boxe francês e canne de combat.Tirando as coisas que deram errado o resto deu certo, amanhã tem mais.

Quando saí da faculdade senti muita saudade de relâmpago. Curioso porque no Brasil não aguentava mais dirigir 1000 km por semana, mas hoje, naquele frio com chuva, pegar a bicicletinha foi difícil. Mas teve a parte boa que foi parar na padaria, quer dizer na Boulangerie (mais chique). Desci preparando o discurso das baguettes que ia pedir, mas a tia que me atendeu tava de mau-humor e ignorou meu francês e escolheu ela mesma os meus pães, ok, pedi uma sacola pra carregar, afinal tava de bicicleta...Ela disse que o saco era pequeno e não me deu. Deve ter pensado, põe embaixo do suvaco! Eu saí com muita raiva, ela ainda recebeu o $$ e pegou nas minhas baguettes, sem luva, com aquele cabelo de Valderrama esvoaçando sobre tudo.
É impressionante como o povo trata mal os paezinhos...Sem o menor carinho...ah...mas quando eu coloquei as baguettes na minha cestinha, sem saco sem nada, as pessoas me olharam de um jeito, que sacrilégio...Legal, embaixo do suvaco deles que tá sei lá quantos dias sem ver uma ducha pode, na minha cestinha não...

Bom voltamos eu e as duas baguettes, que no caminho apelidei de Dayane dos Santos e Bob Burnquist depois do tanto de acrobacias e manobras que elas fizeram pra chegar aqui...Bom, uma delas já comemos.

Só pra terminar hoje no almoço tive que escolher entre duas opções no bandejinho da faculdade. Quando a moça pronunciou os nomes parecia ser a mesma coisa: algo assim: trrripe ou crripe, não entendi, e quando olhei era duro de escolher...Crepe ou tripas...tripas???? Quem escolheu esse cardápio?

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Início do blog e um mês de Toulouse. A impressora transformer

Decidi fazer um blog pra registrar o que der vontade sobre a minha vidinha na França longe da família e amigos.  Ontem fez um mês que estou aqui tentando me habituar à lingua e à distância. Se habituar a comida aqui felizmente é muito fácil, na verdade já estou tentando me desabituar, caso contrário vou ter que me habituar novamente à cara robusta que tive quando morei na Espanha. Ok, por enquanto a cara é basicamente a mesma. Não vi nenhuma balança ainda, nem pretendo por enquanto.

A cidade é lindinha, muito fotogênica, conhecida como "la ville rose" pela arquitetura de tijolinho à vista. Pra mim conhecida como "ville marron" pela quantidade de coco espalhado pelas ruas. As pessoas são muito educadas, passam por vc e sempre dizem bon jour, diga-se de passagem é uma delícia pronunciar essas palavras, o dia fica mesmo melhor e eles falam isso até de noite! Eu as vezes devo parecer mal educada porque ainda não consigo andar sem olhar pro chão desviando das obras caninas e isso me impede de ver os adoraveis franceses sorrindo pra mim...
Ontem tive uma reunião com o diretor da faculdade e a primeira  consulta no médico. Não, esses fatos não tem nenhuma associação. Fui ao médico pq estava sentindo muita dor ao movimentar os olhos...estranho, né? A gente quase não movimenta os olhos normalmente...O dr disse que é virose...o vírus na França não deixa o nariz escorrendo, dá dor nos olhos, realmente morar em outro pais proporciona muitas descobertas!

Lá na faculdade tá tudo bem, essa semana estava super contente pq finalmente aprendi (achei que aprendi) a dominar a tal da fotocopiadora, ela é tão grande, tem tantos botões e luzinhas, deve fazer café e sanduíche. Tava tudo tranquilo, eu fazendo meu xerox das folhinhas, quando de repente ela começou a abrir as bandeijas, levantar os braços, eu me afastei e fiquei observando a fotocopiadora se tornar um transformer. Que vergonha, apertei tanta coisa pra ela parar que estraguei a impressão do chefe do departamento. Eu nem 30 anos, tenho tanta dificuldade com algumas tecnologias...Pior é meu professor com 70 anos que ao tentar mexer na transformer apertou o numero 1 quatro vezes no intuito de fazer 4 cópias. Saiu andando e quando o mesmo chefe de departamento apareceu lá estavam as 1111 cópias do professor...Fotocopiadora hiper fadigada e eu não apareço por lá pelo menos até o mês que vem.