O Blog

No começo eu só queria contar detalhes da minha vida em Toulouse para minha família e amigos curiosos. De repente comecei a ter necessidade de escrever, foi nascendo um diário de crônicas, foram surgindo seguidores, leitores, a vida foi tomando outro curso. Após 1 ano e quatro meses na França, idas e vindas para o Brasil estou diante de mais um ponto de bifurcação, voltando às minhas origens para dar continuação ao blog e a vida. Você está convidado a participar desses próximos capítulos e a se perder e se encontrar nessas novas estradas estrábicas.

sábado, 19 de maio de 2012

Bullying paterno e a chama Olímpica

E nessa nova estrada, nesse louvável e desejado recomeço, peço licença para voltar ao passado e relembrar algumas breves histórias, emergentes em função dos novos caminhos. 
Eu não me lembro bem quando entrei na natação, eu devia ser bebê ainda. Mas não se engane, minha mãe não era daquelas que entra na piscina com seu filho e fica babando por todo e qualquer truque que a criança aprende dentro d'água. Me lembro de nadar numa piscina sem aquecimento no parque de exposições de Valinhos (risos autorizados) e lá fui feliz por muitos anos. No início eu via meu ego perder a noção do tamanho, já que era vista como a bonitinha prodígio na água e eis que chega o momento de ouvir: larga a prancha e muda de raia Mariana! Traduzindo: agora você será da turma do treinamento! Naquela turminha, era o grande ideal dos alunos, ser da seleção! (de Valinhos, interior de São Paulo).
Na minha primeira competição tive várias dores de barriga e nadei "costas". Tive tanto ódio daquela água que subia na batida de todas as pernas na piscina...Eu mal via as bandeirinhas para fazer a bendita virada, faltou pouco, muito pouco para eu chegar em penúltimo. Quase me afoguei! Minha mãe nem deu o ar de sua graça e meu pai, lógico, me sacaneou. Pobre menina, além de praticamente afundar na piscina, ainda é zuada porque ficou em último. Ah! Eu sofri bulliyng paterno! Mas meu professor não, ele era diferente, e eu o admirava muito. Não porque ele era literalmente um moreno alto, bonito e sensual, aos 7 anos eu juro que não sabia o que isso queria dizer. Ele era amável, gentil e se orgulhava da gente. 
Esse foi meu primeiro professor de esporte. Os invernos naquela piscina eram muito duros, as competições intermináveis e eu só uma menina cujas costas não paravam de crescer e pernas não paravam de afinar. Assim, chegou a pré-adolescencia e minha vontade de treinar foi minando e eu migrando para vários esportes: futsal, handebol, basquete, até chegar no jiu jitsu, a merda (sorry) do bulliyng terminou aí. 
Em 1996, assisti e torci incansavelmente durante os Jogos Olímpicos de Atlanta, cantava, me arrepiava e chorava toda vez que ouvia "Reach" da Gloria Estefan, aquelas cenas, aqueles gigantes na piscina, todos aqueles esportes, tantas medalhas, tantos países, tantas vitórias e derrotas juntas, tanta coragem, quanta emoção!

http://www.youtube.com/watch?v=_maDax2z-5k&feature=related

Por mais que tenhamos dúvidas sobre qual a carreira seguir, qual o emprego dos sonhos ou "o que quero ser quando crescer", no fundo, sem clichês, quando o amor por alguma coisa habita a gente, ele desperta uma intuição, uma verdade interior, uma vontade latente, um poder que vai nos guiando, abrindo nosso caminho, enchendo nosso livro de histórias e experiências, que no mínimo valem a pena serem contadas.  Por isso, mesmo me chamando de Forrest Gump, essa é a minha maneira de mostrar esse meu amor pela vida, sejam suas estradas retas ou estrábicas. Tenho claro hoje, que sempre soube dessa minha verdade e vendo Atlanta, já adolescente, isso se confirmou. 

Hoje, começo a integrar um novo time, no projeto dos meus sonhos, na oportunidade de trazer aquela Atlanta de 96, aqui para o meu país quase 20 anos depois, com nossa história, nossa música, nossas piscinas, nosso sorriso, nosso entusiasmo, nosso suor. Assim como meu professor moreno alto, eu me orgulho do meu time, da minha língua, da minha gente... E ainda que o Brasil sofra (como eu) de certo Bullying xenofóbico, acredito, de sincera e boa-fé, que 2016 vai poder inspirar muitos adolescentes indecisos, crianças maduras, adultos céticos e quem sabe até você mesmo, a descobrirem suas estradas, vontades e verdades, a "be stronger and reach higher".