Consegui. Consegui sentar, em
silêncio para escrever alguma coisa. Não sei o que exatamente. Pensei em falar
que decidi parar de fazer a unha no salão, porque não gosto muito do serviço
daqui, pago caro, gasto muito tempo lá, o neném tem que ir comigo ficar
sentindo cheiro de esmalte e produtos de alisar cabelo e ainda por cima logo em
seguida, antes mesmo de pagar, já borrei a meleca da unha. Em casa pelo menos
saio enfiando creme nas cutículas enquanto Zé Bolota brinca de chacoalhar os
ursinhos, em seguida vou empurrando, ele das minhas pernas e as pelinhas da
unha e quando ele acha o controle da TV, coloca inteiro na boca tirando da GNT
e trocando para Tv Senado, aí sim, eu consigo pintar as benditas. Limpar, no
caso, eu acabo deixando para outro momento. O do soninho dele, ou do meu banho,
que finjo ser mais longo só para não ficar com as unhas igual ao batom da vovó
Mafalda. Pronto, mamãe feliz, neném feliz, papai feliz, unhas xexelentas e
dinheiro no bolso.
No bolso não, na farmácia. Nem é
porque ele está doente não, é porque depois que nasce o neném você descobre que
a farmácia é um parque de diversões, só que frequentado quase diariamente. Daí
você se entrega à personagem de mamãe pedinte, chorando por desconto do plano
de saúde, desconto do cartão fidelidade, desconto para estudante, desconto para
uma mãe esforçada, enfim, a caixa da farmácia acaba te oferecendo o programa “minha
farmácia, minha vida” e pronto, a economia de 3 reais já deixa mamãe feliz.
Papai e neném nessa hora estão brincando de aviãozinho obviamente nem aí para a
conquista social e política que se passara debaixo de seus narizes.
Eu descobri que a minha vida
pessoal acontece mesmo das 9h00 às 18h00, de segunda à sexta, enquanto estou
trabalhando. Tudo que eu cogite fazer, que só envolva o meu bem estar, o meu
momento bem egoísta, deve acontecer nesse horário. A “malhação” portanto é na
hora do almoço, a unha, poderia ser na hora do almoço, mas já falamos sobre
esse assunto. Um almoço sem interrupções com um relacionamento respeitoso e
carinhoso entre mim e o prato escolhido: só na hora do meu almoço! Parece
irônico, mas no horário de trabalho isso pode acontecer. Aí você descobre que
voltar ao trabalho não necessariamente será aquela treva que nos persegue
quando a licença maternidade está para acabar.
Dá uma saudade da p. do Bolotas, mas quando a
gente chega em casa, somos só dele, fazemos de tudo por uma gargalhada, pelas
palminhas, pelo tchauzinho, pelas sílabas novas. Aplaudimos todas as conquistas
(lamentamos as que não fomos os primeiros a ver), mas claro celebramos o sentar
sozinho, o levantar sem esforço, o esboço de beijo na boca molhado que ele dá.
E também nos damos conta da trabalheira que vem pela frente, com o engatinhar,
o caminhar...Assunto para um novo post daqui alguns meses (não porque ele vai
demorar para engatinhar, já começou, inclusive, claramente é pelo tempo que provavelmente
vou demorar a arrumar).
Eu disse que a gente é só dele
quando chega em casa, mas tem um detalhe: só até a hora que ele dorme. Estamos
tentando arduamente fazê-lo dormir no mesmo horário, direto no bercinho e a
noite inteira, sem mamar na madrugada. Apesar de todas as leituras e frustações
tentando fazer essas coisas desde o nascimento do Francisco, agora chegamos a
um nível (gostaria de dizer que foi um nível de maturidade), mas, um nível de
stress e cansaço que está nos provando que por mais cansativo que seja ser duro
e se manter firme aos berros do bebê, mais cedo ou mais tarde ele vai aprender
quem sabe o que é melhor para ele, quem manda no pedaço. Quando isso começa
acontecer, começa por conseguinte a sobrar um tempinho para o vinhozinho
abandonado, o carinho no pé, o filme sem pausa, uma vida a dois, ainda que apenas
por duas horas.
No início do texto disse não
saber exatamente sobre o que escrever, agora, linhas depois, aparentemente
escrevi sobre o bebê, mas no fundo sei que escrevi sobre como é tentar retomar
minha vida pessoal, tentar me reencontrar, buscar uma Mariana escondida na
maternidade, porque às vezes parece mesmo que quem a gente era antes não volta
mais, parece que aquele brilho no olho, no cabelo, na pele nunca mais nos
pertencerá.
Bem, vamos aos poucos. Se o
brilho no olho volta, ainda que cheio de lágrimas e olheiras de cansaço, esse
já é nosso primeiro passo. O cabelo e a pele, o verão e o cabeleireiro podem
resolver. Aí pronto, mamãe feliz. Já papai e neném, provavelmente estarão
brincando de cavalinho assistindo nossas transformações e reencontros.