O Blog

No começo eu só queria contar detalhes da minha vida em Toulouse para minha família e amigos curiosos. De repente comecei a ter necessidade de escrever, foi nascendo um diário de crônicas, foram surgindo seguidores, leitores, a vida foi tomando outro curso. Após 1 ano e quatro meses na França, idas e vindas para o Brasil estou diante de mais um ponto de bifurcação, voltando às minhas origens para dar continuação ao blog e a vida. Você está convidado a participar desses próximos capítulos e a se perder e se encontrar nessas novas estradas estrábicas.

sexta-feira, 4 de março de 2016

Dona Zika admirou-se, se!

Evento teste de Rugby em cadeira de rodas. Cinco dias dentro da Arena. 15 horas de trabalho por dia. Dia seguinte, uma enxaqueca violenta. Parecia ressaca do pior porre. Vieram as dores horríveis no corpo e nos olhos. Provável estatística do aedes aegypti, do tão na moda zika vírus.

Fui obrigada a ficar em casa, embora mesmo me arrastando quisesse trabalhar. O facebook doador de memórias,  me trouxe um texto antigo, de quatro anos passados. Onde eu dizia que estava com medo de perder a fé Me emocionei com as palavras e principalmente com os comentários. Injeções de fé, motivação e carinho de pessoas conhecidas e desconhecidas.  
Lembrei de como me via sem saída, encurralada em mortes, dívidas, lágrimas, dissabores. Faltava força para ressuscitar da cama, coragem para analisar os estragos, clareza para decidir de onde começar e "se" começar. Encontrava conforto pensando na minha morte, no fim da dor, em reencontros...
Eu sei, palavras fortes.  Só hoje consigo falar delas mais abertamente. Tampouco tenho vergonha em dizer que já torturaram meus pensamentos. Eu desejei isso.
No dilema do suicídio residem a covardia e a coragem, a necessidade e o egoísmo, o amor próprio e a falta dele. É injusto julgar, é injusto fazê-lo. Há aqueles que já consideraram, que já o fizeram, que sofreram ao ver alguém fazer, os que tentaram, os que jamais cogitaram. Há aqueles que não tocam no assunto. Sem querer toquei hoje. Porque algo me fez lembrar o quanto achava que isso ia resolver meus problemas, o quanto isso iria me salvar.

Olho para trás e me vejo hoje no clichê "Sã e salva". Com muitas dores físicas, mas admirada do quanto minha fé se fortaleceu, do como aqueles fantasmas foram embora. 
Eles vão embora. Nós vamos embora e os deixamos para trás. 
Apesar de ter vivido na pele, não sei dizer exatamente qual o caminho e se eles voltarão ou não. Mas sei que se a gente acreditar um pouquinho, com o mínimo de fé que restar, no amor, num amor, que pode vir de qualquer um, de quem se espera e não se espera ou de nós mesmos, dá para sair do buraco. Um degrau de cada vez, limpando com dignidade as feridas, respeitando o tempo que se leva para sarar. 
Foi assim que levantei, bati o cabelo, escolhi a vida... a Zika diante disso é do tamanho de um mosquitinho mesmo.