O Blog

No começo eu só queria contar detalhes da minha vida em Toulouse para minha família e amigos curiosos. De repente comecei a ter necessidade de escrever, foi nascendo um diário de crônicas, foram surgindo seguidores, leitores, a vida foi tomando outro curso. Após 1 ano e quatro meses na França, idas e vindas para o Brasil estou diante de mais um ponto de bifurcação, voltando às minhas origens para dar continuação ao blog e a vida. Você está convidado a participar desses próximos capítulos e a se perder e se encontrar nessas novas estradas estrábicas.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Robin dos Bosques e as línguas portuguesas

Almoçando em Portugal: Entrada, mais prato principal, mais sobremesa, mais uma taça de vinho= 5,90 €...Fazer o pedido e ser compreendida, não tem preço! E assim passei os dias em terras lusitanas me surpreendendo com o preço (baixo) das coisas e achando o máximo poder falar tudo o que eu queria, com meu sotaque e ser entendida na maioria das vezes. Isso porque apesar da língua ser a mesma, a maneira de entender o outro é muito diferente. Sempre vi minha mãe e todas minhas tias abominarem piadas de portugueses contadas pelos outros, entre elas era permitido.

Claro, com toda família descendendo de "Trás os Montes", o sarcasmo alheio não podia ser permitido. Entretanto, me lembro de ver minha mãe inúmeras vezes com um jornal na mão, lendo todas as notícias e verbalizando o sotaque da minha falecida bisavó, eu morria de rir. Não entendia quando criança porque elas diziam que o português chamava o elevador gritando: elebadorrr, elebadorrr...Meu avô não se chamava Manoel, mas minha mãe sim que é Maria e estar esses dias sozinha na terra dos meus antepassados fez com que me sentisse praticamente em casa. Comi feijão, linguicinha, couve, farofa e fui muito bem tratada, com muita fartura ao som melódico do português de Portugal.


No primeiro dia perguntei ao rapaz da informação turística: Moço, se eu pegar o ônibus X eu vou para o centro? E ele responde: pois se aguentares com ele, vai sim. E complementou dizendo o que ônibus era pesado. Depois que "peguei" o ônibus, já para a cidade do congresso, o mesmo fez uma parada, desci na mesma hora para me esticar e comprar uma água,  quando retorno percebo que era um motorista diferente, ele me pediu o bilhete para entrar no ônibus, automaticamente eu respondi: eu já estou lá dentro moço, desci só um minuto; ele responde em seguida: não estás lá dentro não, estás aqui fora, tens que me mostrar o bilhete...Eu respirei fundo, ri por dentro e reformulei a frase. Pensando bem, ele tinha toda razão, eu que fui estúpida em dizer que estava dentro do ônibus, quando na verdade estava do lado de fora falando com o motorista!

Os dias foram tão agradáveis e o congresso (de artes marciais e esportes de combate) perfeito, gente do mundo inteiro, mil idiomas zanzando pelo auditório, trabalhos muito bons e energias muito positivas que se propagavam com mais intensidade sob os 30º graus portugueses.

 Dentre todos os momentos sérios de um congresso os mais marcantes ainda são aqueles que fazem a gente rachar de rir, e assim saímos os congressistas para passear pelas agradáveis ruas de Viseu...

Nos deparamos com uma bandinha (chamada de tuna, com alunos da faculdade), paramos todos para assistir e os professores de defesa pessoal da Republica Tcheca me pediram para traduzir o que a banda cantasse...Elas começaram dizendo: Merda, a democracia, lalala...Eu simultaneamente: Shit, the democracy lalala...Eles atentos à minha performance, então no refrão elas começam: Os putos, os putos, os putos (leia-se ux putux, com sotaque), eu batendo palmas cantarolei: the motherfuckers, the motherfuckers, the motherfuckers...Os tchecos de olhos arregalados foram surpreendidos pelo salto que nosso amigo português deu quando me ouviu praguejando frente à igreja...Ele disse alto: não Mariana, putos são miúdus, meninos pequenos...Eu: Ow I´m sorry for the translation!! Fiquei roxa de tanto rir e acabei  me esquecendo de lhe perguntar qual seria o feminino para meninas pequenas, miúdas...Melhor não saber mesmo!



O mais legal foi ver na livraria o best seller Robin dos Bosques (Robin Wood)! Tudo bem, lá no Ceará (terra da outra parte da família) chamam o Harry Potter de macumberinho de 12 anos... E eu sempre me divertindo com as diferenças culturais!

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Fritando um ovo durante o casamento real

O post dessa semana deveria ser em francês para me forçar a treinar essa bendita língua. Afinal tenho reunião amanhã com meu "directeur de thèse" (adoro falar isso) e tem sido um pouco difícil me concentrar nos dados e na literatura francesa após a partida do meu chéri. Voltou para o Brasil no dia do casamento real e eu me vi de repente enchendo os olhos de lágrima enquanto o príncipe se casava, isso por causa da cebola que estava cortando. Foi realmente difícil assistir à boda sem companhia. Um evento desses suscita incontroláveis comentários que merecem ser divididos com um outro alguém. E assim passei o dia completamente sozinha na frente da tv, descobrindo todos os detalhes da cerimônia, como a cor da calcinha da Vitória Beckham, o preço das luzes do Elton John, a touca que o Ian Thorpe vestirá na próxima Olimpíada. Até o polvo primo da mãe Diná tentou prever o modelo do vestido da noiva. Pude dar um upgrade na minha ignorância real, descobri inclusive, via um amigo engenheiro, num papo cabeça á beira do rio, que a Kate não será princesa, e sim duquesa, confere Lucas?
Para abandonar a melancolia da partida, fui buscar mais coisas para fazer. Entre elas malhar de manhã e treinar jiu jitsu a noite, fiquei tão dolorida e machucada que este fim de semana quando fui, solitária comer um sanduíche, uma senhora me encarava provavelmente cogitando a hipótese de dar o cartão da delegacia da mulher de Toulouse. Sim, muitos hematomas, mas diversão também. Pra ajudar alguns dos meus amigos franceses só querem falar português e cantar funks dos mais proibidos na minha presença. Altas doses de risadas e eu emburrecendo francofonicamente.