O Blog

No começo eu só queria contar detalhes da minha vida em Toulouse para minha família e amigos curiosos. De repente comecei a ter necessidade de escrever, foi nascendo um diário de crônicas, foram surgindo seguidores, leitores, a vida foi tomando outro curso. Após 1 ano e quatro meses na França, idas e vindas para o Brasil estou diante de mais um ponto de bifurcação, voltando às minhas origens para dar continuação ao blog e a vida. Você está convidado a participar desses próximos capítulos e a se perder e se encontrar nessas novas estradas estrábicas.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Amor à vida: A novela da gravidez do primeiro ao nono mês

Claro que ia escrever um post sobre a novela da gravidez. Engraçado que dura mais ou menos o mesmo tempo das novelas brasileiras e de praxe traz um enredo: você descobre, a sementinha cresce, o bebezinho se desenvolve e seu filho nasce. A chamada convidativa para os espectadores é: Você vai se emocionar com cada capítulo desta novela e se surpreender com o final.
Pronto. Não quero me comparar a nenhum autor de novela, até porque entraríamos numa discussão de gostos e interesses. Entretanto, prestes a completar 39 semanas de gravidez (9 meses e alguns dias), queria dividir alguns capítulos desta novela tão especial para mim.

Dois indivíduos salivando para serem pais se uniram e antes de pensarem em comprar uma casa, casar, namorar anos…eles decidiram ter um filho. Eles achavam que demoraria um pouco até seus espermatozoides e óvulos se entenderem para culminar num embrião e resulta que no segundo mês de tantativa, alvo acertado, nasce uma grávida. 
O pior é que o aspirante a pai havia deixado claro que não participaria de testes de urina, pauzinho, sangue ou qualquer outra maneira de se descobrir uma gravidez. Ele queria surpresa. Vejamos...Muito egoísmo de uma pessoa que engravida a outra e não se dispõe a dividir a neurose de uma mulher à espera das listrinhas no palito embebido de xixi e a frustação ou alívio do que quer que aparecesse lá. 

Ok. depois de quase desmaiar ao completar uma volta na Lagoa, desconfiei que talvez pudesse comprar o tal teste na farmácia (escondido, claro). Em meio a embalagem, pauzinho, urina, copinho e mal de Parkinson, constatei apenas uma linha e concluí, é…não foi dessa vez. Minutos depois, ainda cabisbaixa, retorno ao pauzinho como se por mágica outra linha pudesse aparecer e eis que havia uma marquinha, tão clara, tão clara, que achei que era o meu próprio estrabismo que a havia colocado lá. Perguntei a uma amiga que estava na minha casa (porque afinal o papaizinho não podia desconfiar!) e pronto, duas antas e a conclusão, não Mari, você não está grávida.

Virei a página e continuei meus afazeres daquele fim de semana: trilha na Pedra Bonita, skate na lagoa, até que chegaria o dia do treino de jiu-jitsu e minha terapeuta, sabendo da desconfiança, praticamente me obrigou a fazer um novo teste no dia da arte suave, uns 4 dias depois do primeiro. Nem vou narrrar onde estava e como foi, mas as duas linhas apareceram na mesma hora, no mesmo segundo, igualmente fortes. Resumindo: positivo! Podia esperar o dia seguinte pra fazer o exame de sangue e só então contar para o namorado-pai do embriãozinho. Obvio que não deu, mas passei o dia pensando na tal surpresa que ele me pedira.  Em casa o mini kimono com o bilhetinho pedindo ao papai para levá-lo ao jiu jitsu dali 9 meses junto da mamãe,  fez o projeto de autista sair correndo pela casa, entrar de roupa no chuveiro, pegar a vuvuzela e anunciar pela janela, chorar e chorar…Assim descobrimos que seríamos pais. E os capítulos da novelinha dos 9 meses tiveram sua estréia.
Junto com a descoberta veio uma fome infinita e alguns desejos singelos do tipo sopa de aipim com cenoura e cachorro quente com muito purê (inexistente no Rio). Em seguida vieram os enjôos diários, matinais, vespertinos e noturnos que me assombraram até a metade do terceiro mês. 
O pedido de casamento aconteceu nesse ínterim e com ele os preparativos, além disso a vontade de terminar o doutorado antes do nascimento veio à tona e com ela todo o desespero de escrever a tese.
Resumindo: casei praticamente organizando tudo no braço, viajei de lua de mel pra fazer o enxoval, terminei o texto do doutorado nas noites e fins de semana que sobravam, além de claro continuar trabalhando. Resultado: no sétimo mês contrações prematuras e um bebê querendo vir ao mundo antes da hora…
Eu que estava feliz e contente nas minhas aulinhas de hidro, ouvindo as gravidinhas reclamarem de sono, estrias, cãibras, aumento de peso, prisão de ventre, hemorróidas…só me perguntava, cadê o glamour da gravidez da Juliana Paes, da Angélica? Oi? Não existe, óbvio, e a grávida que diz que sua gravidez não teve nenhum desses desconfortos ou intercorrências, ou tem amnésia ou está mentindo mesmo! 
A cada dia uma descoberta, uma irritação, uma euforia e uma sensação de nostalgia. Uma mãe vai se construindo e um pai começa a exercer sua paciência desde já, caso contrário pode ser fatiado como o japonês colocado em pedaços dentro da mala. Sim, grávidas são um pouco psicopatas quando não compreendidas (ou com fome).

O mais interessante nessa fase são os comentários das pessoas sobre suas mudanças físicas:"Nossa, vc já está inchadinha, né?" "Caramba, seu bumbum cresceu bastante!" "Ih o nariz já está batatinha!" ou a clássica "Quantos kilos você já engordou até agora?"(R: muitos, a menos que você seja a minha médica, isso não importa).
Vamos lá: Nós temos espelho em casa, certo? Portanto, dispensamos o reforço do que vemos todos os dias. Segunda coisa: as grávidas são realmente lindas e quando você não está neste estado de graça, o melhor é ressaltar as características boas, já que elas não reconhecem facilmente essa beleza em si próprias, somente nas outras. Por fim, previsões negativas sobre o que está por vir também são desnecessárias…Já sabemos que iremos dormir pouco, que o bebê vai dar trabalho, que nossa rotina vai mudar…Então você que já sabe disso, que tal falar do amor incondicional que sente pelo seu filho, das alegrias diárias que ele te dá, do quanto é bom segurá-lo no colo e acalmá-lo quando ele está chorando? Humm…ouvi isso poucas vezes…
Claramente se estamos falando de amigas próximas é normal um papo de terror, amor e sinceridade, mas supoe-se que estamos perguntando e queremos saber da realidade, não me refiro aqui às conversas de corredor, elevador e mercado, normalmente as mais impróprias…
A última nesses dias tem sido: "Aproveita pra dormir, porque daqui a pouco…" 

Se alguém pudesse me ensinar como se aproveita o sono aos 9 meses de gravidez, eu agradeceria…Uma barriga que sai esbarrando em tudo e em todos, não encontra posição na cama para dormir e quando dorme, precisa desencalhar do leito pelo menos 8 vezes para esvaziar a bexiga, que nessa altura  da novela já está menor que um sacolé...

Poderia ficar páginas e páginas me queixando ou contando sobre a emoção de sentir ele mexer o tempo todo, poderia falar dos medos, da ansiedade, da expectativa, do apoio e torcida dos amigos e

famílias para aquele final feliz…

Depois de muito repouso para o Francisco esperar a hora certa, estou a poucos dias de seu nascimento, recebendo votos de uma "boa hora" e ansiosa para sentir a presença do pequeno pela primeira vez…Esperando que à medida do possível eu me aproxime dos instintos da índia que cuida do seu bebê sem intervenções da sociedade, em paz, imune aos palpites e comentários alheios, até que eu e Francisco nos conheçamos bem, tenhamos sintonia e intimidade, o que certamente é individual e único na relação de cada mamãe e bebê. A seguir cenas dos próximos capítulos.