Primeiro
post do ano, meses sem postar, quantas palavras deixei passar, quantas
histórias sem contar. Ficaram para trás, eu fui em frente e agora vejo em minha
frente o papel em branco começando a ser tatuado por aquilo que meus dedos não
se impedem de gravar. Reporto-me a um poema de Neruda, enviado por uma amiga
que exala a vida. Segundo eles é proibido fazer muitas coisas, entre elas, "esquecer aqueles que gostam de você,
ter medo de suas lembranças, chorar sem aprender, é proibido esquecer seus
olhos, seu sorriso, só porque seus caminhos desencontraram, é proibido sentir
saudades de alguém sem se alegrar..." e as proibições continuam num
fluxo infinito de reflexões sobre passado, presente, futuro, sobre os presentes
que nos deixa o passado e o como eles podem continuar presentes em todos os
futuros. Aquilo que não escrevi, posso te contar de muitas maneiras, sempre com
a essência estrábica do meu pensamento, na tentativa de não cultivar o
"tempo sem tempo" ao qual se referem os espíritas. Sendo assim, se
existe um tempo e a dona dele sou eu, nada melhor do que poder sentar e dar
vida ao papel pálido, ao blog abandonado e aos leitores silenciados. 
Depois do último
post fúnebre e sarcástico, me parece uma obrigação falar da continuação do
ciclo, dessa vez não citarei as resoluções do ano, mas as mudanças e
transformações, as quais não me proibi de viver. Inevitável falar de dor. Dói
mudar. Dói cortar aqueles cinco dedos de cabelo, dói arrastar os móveis, lascar
o espelho, dar aquela calça que não cabe mais. Dói deixar os laços do último
emprego para trás (no caso de quem conseguiu cultivar boas relações), dói se
desfazer dos bens de quem já se foi, dói não ver aqueles amigos todos os dias.
Dói trocar o kimono velho, não lutar no mesmo tatame. Dói ver sua família só
pelos retratos, dói perder pedaços. Não é proibido sentir dor, quem sente dor
tem compaixão, empatia e amor, só sente dor quem ama. Nesse caso a maior
proibição é para não cuidar da dor. É proibido conviver com a dor. Por isso a
mudança, para que não se torne um hábito sofrer de dor. E quantas mudanças eu poderia detalhar aqui! Desmanchei um longo noivado (no meu caso não foi culpa da vaca), minha irmã está namorando (com planos de se casar em 2019), minha mãe disse que vai procurar um trabalho (espero que durante o dia e sem nome de guerra) e eu estou me adaptando e tentando me descobrir depois das mudanças físicas e sentimentais. Não vou dizer que elas são como a água, inodoras, incolores e insípidas, muito menos indolores. Mas me proibido dizer que são ruins, me proíbo impedir que aconteçam, me proíbo olhar pra baixo, me proíbo enrijecer. E me permito... tatuar papéis e pensamentos, olhar nos olhos e “no” céu, para compreender as tempestades e possíveis vacas que vem de lá.