Ok, para algumas pessoas isso pode parecer
perfeitamente natural, a irmã caçula se casar antes da mais velha, qual o
problema? Nenhum, se não fosse a Fabi. Para contextualizar vou tentar resumir
os 28 anos de existência da minha irmãzinha em algumas linhas. Ela nasceu quase
dois anos depois de mim, meus pais eram casados, nós morávamos no Rio. Minha
mãe não tinha os hábitos mais saudáveis para uma grávida (um dia volto nesse
assunto) e a Fabi veio ao mundo cheia de problemas respiratórios, dificuldade
para mamar, reflexos lentos, até que após inúmeros exames e mapas genéticos,
descobriu-se a síndrome de Rubinstein Taybi. Assim como a maioria das pessoas,
meus pais, nem eu sabíamos o que isso queria dizer ou implicaria na vida da
Fabi e nas nossas. Para eles o impacto de ter uma filha deficiente, para mim
inicialmente, era vê-los com ela no colo para cima e para baixo, em médicos,
hospitais e clínicas de reabilitação. Na prática isso implicava em pouca
atenção pra mim. Foi aí, muito cedo, quando eu comecei a me virar
"sozinha". Nós fomos crescendo juntas, ela descobrindo o mundo pouco
a pouco e eu ajudando ora por vontade própria, ora obrigada por eles. Não posso
negar que limpar a bundinha robusta da minha irmã, sobretudo na minha
adolescência era bastante desesperador. Gritos de "Mary, já acabei!!!" a parte, cada passo dela era uma
vitória, desde comer a comida sozinha, até a leitura da primeira palavra. Tudo
era difícil pra ela e meus pais naturalmente não sabiam como educa-la. Entre a
superproteção e o abandono cresceu a Fabiana. 
Nós, como todos os irmãos,
brigávamos bastante, dividimos o mesmo quarto até os meus 17 anos e ela tolerou
pacientemente todos os meus posters do Leo di Caprio espalhados nas paredes. A
convivência com a madrasta impulsionou a autonomia dela e uma revolta interior também,
nem mesmo a música sertaneja era capaz de acalmar a Fabiana em momentos de
fúria. Aí quebravam-se os óculos, as portas, os armários e claro, nossa
paciência e nossos corações. Todos conviviam com suas nuances carinhosas e
agressivas, mas a característica "inteligência" sempre foi muito
marcante. Eu sempre me diverti dividindo as famosas pérolas da Fabi. Frases do
tipo "Moço, me dá uma colxinha, uma espirra e um risólho (1991) "Não
é possível agradar negros e coreanos" (2003) ou a última sobre filmes
para adultos "Mary, ela colocou o pinto do homem na boca dela, que
porca!”(2012), essas entre outras, são comumente proferidas pela minha
irmã, que apesar da síndrome, conversa comigo de igual pra igual, ri comigo das
abobrinhas da nossa mãe e claro, depois da partida do meu pai, depende
emocionalmente e financeiramente de mim. Desde pequena eu sabia que um dia isso poderia acontecer, mas sinceramente, não achei que seria tão cedo, assim...nos meus 30. Apesar da Fabi ter tido muitos amores platônicos (Zezé di Camargo, Junior da Sandy, Fábio da novela Jamais te esquecerei, Pedro dos Rebeldes) ela nunca teve um namorado sério e eu inocentemente ou ignorantemente achei que isso não aconteceria com ela. Péeeem! Engano meu!
Talvez a sensação dos 30 seja por perceber que
ela também amadureceu e está seguindo sua vida, talvez isso deixe nosso passado
só no passado, junto com nossa infância, com nosso pai. Talvez agora ela possa
entender o que é ser adulto, talvez possa encontrar as válvulas de escape que
nunca teve, talvez ela possa ter alguém que entenda sua história e que olhe
para ela somente como uma linda mulher, talvez ela encontre a razão que muitas
vezes pareceu perdida e alguém para compartilhar dessas razões. Talvez 28, 58, 82 e 30 sejam só números e a sensação que estou sentindo agora, só coisa de irmão.