O Blog

No começo eu só queria contar detalhes da minha vida em Toulouse para minha família e amigos curiosos. De repente comecei a ter necessidade de escrever, foi nascendo um diário de crônicas, foram surgindo seguidores, leitores, a vida foi tomando outro curso. Após 1 ano e quatro meses na França, idas e vindas para o Brasil estou diante de mais um ponto de bifurcação, voltando às minhas origens para dar continuação ao blog e a vida. Você está convidado a participar desses próximos capítulos e a se perder e se encontrar nessas novas estradas estrábicas.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Nove meses de almoço: a história da Maria


Muitos amigos meus diriam que eu sou uma pessoa tranquila de conviver, alguns me acham meio boba quando relevo demais as coisas, já outros se divertem com meus comentários em relação a algumas situações na vida...E por aí vai, a cada dia uma Mariana. Hoje acabo de me irritar. Percebi que os franceses tem pouca memória a curto prazo ou fingem que tem. Pois veja, outro dia saí feliz do almoço porque acreditava ter encontrado companhias para saborear diariamente a cuisine francesa de 3,00 da faculdade. E eu me julgo uma pessoa fácil de fazer amigos, que venham os amigos, sem nenhum preconceito de religião, cor da pele, preferência sexual, o bom mesmo é conhecer as pessoas e se modificar com o que elas te proporcionam. Ok, dentre esses tais novos amigos por exemplo, havia a Maria, a mais comunicativa. Me identifiquei com ela, principalmente porque ela também puxava assuntos, e não era só eu a brasileira esquisita que ficava fazendo perguntas. Porém, o que ninguém percebeu foi a dificuldade que eu tive em entendê-la. A Maria é uma negra linda, com um sotaque próprio dos franceses negros (quase um dialeto) e pra piorar a prova de compreensão oral, a garota era gaga. Sim, um baita de um sotaque estranho e ainda emperrava ao falar as coisas. Mas eu sou tolerante e mesmo quando queria adivinhar o que a Maria falava, eu me continha, porque sei que normalmente a gente erra e irrita o gago. Só a título de contextualização, a Maria é funcionária da faculdade onde está o meu laboratório e como meu diretor de tese já é aposentado, eu fico bastante sozinha durante o dia e a hora de fazer novas amizades é o almoço. Claro que eu conheço algumas outras pessoas, professoras pesquisadoras no mesmo departamento, elas já são um pouco mais velhas, devem ter netos ou bisnetos, mas mesmo assim eu gostaria de almoçar com elas. Entretanto meus caros, acho que a recíproca não foi verdadeira. Agora pouco, quando fui sozinha almoçar, servi meu singelo pratinho com pato, batatas e cenoura, procurei alguma cara conhecida no refeitório, e tudo que minha visão míope me permitiu enxergar foi a Maria numa mesa toda ocupada. Me sentei sozinha a observar o movimento, quando entram pela porta (pela janela é que não ia ser) as duas professoras que descrevi acima, uma mais cheinha a outra bem magrinha, acenam pra mim e vão se servir (nessa hora pensei, ótimo, terei companhia) logo me levantei e fui encher uma garrafa d’água para nós três, melhores amigas. Coloquei a água sobre a mesa e então: as duas reumáticas passaram por mim e se sentaram na mesa mais distante da Mariana, porém perto da Maria. Como assim? Elas não me conhecem, não se lembram de mim? Queriam contar algum segredo entre elas? Talvez eu nem entendesse o francês arcaico que utilizariam. Ah, droga, sim, comi todo meu pratinho sozinha, me levantei e ao abrir a porta para sair, eis que vejo Maria e o máximo que ela faz é me olhar e dizer: Sa-Salut! Complicado entender os franceses, eu celebro hoje meus 9 meses aqui, esperando dar a luz à pelo menos novas companhias para o almoço.

5 comentários:

  1. Vc devia ter almocado em casa com sua verdadeira amiga Ana Flavia, nao e gaga e ainda fala portugues (tirando umas palavrinhas q escapam de vez em quando) !!! ainda eve pate au pesto rosso !!! heheheheh

    ResponderExcluir
  2. chorei de rir... mesmo... pq lembrei do faísca falando a língua do P em inglês em cássia... acho que essas criaturas um tanto quanto excêntricas (fui boazinha!) fazem um sucesso tremendo.
    vem cá almoçar comigo! só que eu num quero pato!!!!
    beijoooooooooooooooos

    ResponderExcluir
  3. ô bichinha!! vou arrumar um guiado para almoçar com vc!! e prometo nunca te deixar almoçar sozinha no comedor da Vila!

    ResponderExcluir
  4. Mari, leva o computador... almoçamos juntas pelo skype! Prometo não gaguejar!

    ResponderExcluir
  5. Mari
    Não são só os franceses que são estranhos. Estou morando nos Estados Unidos e um dia numa aula de fotografia que eu estava fazendo na Universidade que meu marido é pós-doc, eu estava no 2 dia de aula sentada numa mesa grande com vários alunos, aí eles começaram a perguntar de onde cada um era. Eu fiquei toda feliz, pensando que poderia me comunicar com meu inglês que aprendi no Brasil. Eles começaram a responder Nova Iorque, Nova Iorque, Nova Jersey, aí chegou minha vez e respondi Brasil, aí eles olharam pra minha cara e falaram : Ah! vc é de muito longe. Aí começaram a conversar entre si sobre qual bairros eles moravam em Nova Iorque.
    Eu fiquei simplesmente pasma. Pô no Brasil, ficamos super simpáticos quando encontramos um gringo para conversar e perguntar sobre o seu país!!
    Mas enfim, não são só os franceses que são estranhos!!! Americanos tb.

    Beijos
    Fer fef03

    ResponderExcluir