Quando eu era uma garotinha, de
cabelinho Playmobil, olhinho apertado e dentinho separado eu comecei a pedir.
Quando a gente é criança, acho que a gente pede mais certo, mais sincero, o
mais essencial. Eu pedia para o papai amar a mamãe e a mamãe retribuir, eu
pedia para eles pararem de fumar aquelas coisas estranhas, eu pedia para os
meus amigos gostarem da minha irmã, eu pedia. Numa conversa singela, destemida e
despretensiosa, com alguém muito próximo, com alguém que eu sentia do meu lado. Os cabelos cresciam, os dentinhos caiam, o pé aumentava e meus pedidos continuavam. Pedia para ser a artilheira do futebol, a melhor goleira no hand, pedia para conseguir fazer bonito no tatame, para orgulhar meu pai. Eu pedia pra minha perna engrossar, meu bumbum diminuir, para minha mãe parar de querer me consertar. Eu pedia pra ela me achar bonita, eu achava ela linda. Eu pedia um 10 na escola, pedia por uma amiga triste, pela empregada alcoólatra. Pedia o sorriso daquele garoto no recreio, pedia pão de queijo todo dia, o bolo da vovó e os conselhos do vovô. Pedia o cinema com as tias, dormir na casa das amigas, fazer guerrinha de água e andar de patins o dia inteiro. Eu seguia pedindo e sinceramente não me lembro com exatidão quais desses pedidos Ele atendia, mas a cada dia que nascia, aumentava em mim a alegria e vontade de viver, de pedir e agradecer por cada segundo, tivera sido ele fácil, difícil, triste ou bonito.
E comecei a pensar como seria o amor que eu deveria pedir, que qualidades eu pediria e quais defeitos aceitaria. Pensei, pensei, pensei e pedi, alguém que me amasse, me respeitasse, igual no discurso do padre. Pedi alguém que meu pai gostasse, alguém que gostasse da minha irmã e tolerasse minha mãe, alguém para quem meu pai me entregasse de branco e que desse a ele muitos netinhos. Eu nem sei como pedi, porque esse pedido em especial é muito difícil pedir.
Para ter esse desejo concedido é preciso
merecer, é preciso ter sido aprovado em todos os testes, é preciso ter sido
paciente e sábio quando muitos dos outros pedidos não fossem atendidos. Hoje, 31 anos depois dos primeiros pedidos, eu vejo esses olhinhos azuis que eu não pedi, vejo carinho, cuidado, preocupação. Vejo intensidade, entusiasmo, entrega. Vejo calor, paixão, atração. Vejo namoro, noivado, casamento, bodas de papel, prata e ouro. Vejo planos, filhos, netos, bisnetos. Vejo atitude, segurança, serenidade e otimismo. Vejo bondade, família, laços fraternos. Vejo AMOR. Amor que nunca poderia pedir.... Amor que papai do céu me entregou de surpresa, quando não estava sabendo lidar com o amor. Amor completo, em harmonia, sintonia. Amor que nem parece real, parece de fadas, princesas e reizinhos. Amor que me faz acreditar no amor. Amor que me ama do jeito que eu sou, amor que me deu de presente o maior presente que eu posso dar ao mundo e que cresce a cada dia dentro de mim numa proporção que só saberei ao certo depois que estiver nos meu braços. Viva os pedidos, viva o amor, viva o aniversário do meu Zamô!!




